Que alterações
deviam ser feitas no enquadramento gestionário-legal
do ensino superior público português?
Reforço muito claro da autonomia. Envolvimento
do meio externo na gestão das Instituições
de Ensino Superior. Criação de mecanismos
de regulação por parte do Estado, sem
ingerência na vida organizacional. Confiança
nas instituições. Valorização
(em sede de estatuto de carreira docente) dos aspectos
pedagógicos. Prestação de contas.
Criação dum sistema independente de avaliação.
Que independência devia ser dada à
acção das instituições privadas
de ensino?
Sei que não vou ser politicamente correcto, mas
acho que deveriam ter um tratamento idêntico ao
das instituições públicas, nas
matérias ligadas à sua actividade. Tratamento
idêntico implica responsabilidades idênticas.
E por falar em independência, defendo a criação
duma instituição não governamental
que avalie o funcionamento da Educação.
Temos alguns exemplos por essa Europa. Mas reforçaria
o carácter não governamental. O movimento
que se sente em Portugal é o contrário:
o da governamentalização da avaliação
educacional e até o da própria gestão.
Quais as contingências tipicamente portuguesas
nos critérios organizacionais que tenham em conta
o respeito pelo individuo?
Os portugueses são respeitadores. E as organizações
nacionais também o são. A nossa maior
frame é uma história secular de respeito
pelos outros e um avanço geracional de consideração
pelos direitos humanos. A nossa maior dificuldade reside
na eficiência e a ineficiência pode, muitas
vezes, ser desrespeitadora do outro.
Qual deve ser a postura de uma organização
ante o manancial de informação que tem
cada vez mais que gerir?
Procurar a informação estratégica.
Provavelmente, estabelecer um outsourcing com empresas
especializadas será uma solução
para que a selecção seja cuidada. Incentivar
nos colaboradores uma atitude de pesquisa activa ancorada
numa enorme capacidade de ouvir por parte de quem tem
responsabilidades de gestão também poderá
constituir uma boa prática.
Quem aprende: a organização ou
os indivíduos?
O indivíduo aprende sempre, ao longo da vida,
reforça e acrescenta conteúdos. As empresas
também aprendem porque são criações
de indivíduos, de grupos e de colectivos. Todos
aprendemos e aprender funda o conhecimento que é,
para mim, o maior valor educacional e civilizacional.
Biografia
Doutor em Psicologia, especialidade
de Psicologia Social, pela Universidade de Coimbra.
Actualmente é Professor Auxiliar da Faculdade
de Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade de Coimbra e Professor Convidado da
Escola Superior de Educação João
de Deus. Foi Pró-reitor da Universidade de Coimbra,
Consultor do Ministro da Educação do XV
Governo Constitucional e Secretário de Estado
Adjunto e da Administração Educativa do
XVI Governo Constitucional. É Conselheiro Nacional
da Educação. Os interesses de investigação
incidem sobre a Psicologia Educacional, Psicologia Social
e Psicologia das Organizações.
Publicou “A Organização: Teorias
e Paradigmas”, “O Que se Pensa Sobre a Ciência”,
“Ciência e Sociedade”.
|