Que aplicações
podem ter as teorias do caos no management?
As teorias do caos já têm aplicação
no management. Uma parte dos softwares utilizados hoje
em gestão já reflectem, de modo trivial,
algoritmos desenvolvidos a partir dos princípios
da teoria do caos e da complexidade. Todos os telemóveis
têm software “egoísta” que
procura servir o seu dono e não a “rede”
em que se insere e por isso o comportamento global da
rede é melhor. Basicamente o problema é
o de que a optimização de sistemas inteiros
poderá não ser um problema de investigação
operacional, que vise uma mega função
optimal de todo o sistema, mas antes resultar do comportamento
agregado de pequenas unidades locais que ignorando o
sistema como um todo se limitam a tentar melhorar o
seu desempenho no contexto limitado e local em que operam.
O resultado agregado destes comportamentos egoístas
e, por vezes contraditórios e conflituosos, parece
ser superior ao resultado que se obtém através
de instrumentos de regulação e intervenção
centralizados. Isto tem implicações ao
nível da teoria organizacional, e ao nível
da governação de sociedades... Leva-nos
a perceber que as nossas capacidades de previsão
devem ser encaradas com mais cepticismo e que nem tudo
pode ser comandado a partir de um qualquer centro, que
o desenho de projectos deve incorporar muitíssimo
mais folgas contextuais e contingenciais e mais gente
com capacidade local para intervir sem autorizações
de centros distantes...
O que são as ciências da complexidade?
Podemos sintetizar a coisa do seguinte modo. O Caos
pergunta como é possível três variáveis
em interacção poderem conduzir a comportamentos
imprevisíveis e mesmo bizarros. Três simples
variáveis como digamos humidade, temperatura
e pressão atmosférica.... como é
que podemos ter comportamentos explosivos que nos deixam
perplexos....A complexidade pergunta mais ou menos o
contrario, isto é, apesar de tudo a nossa experiência
de estarmos vivos não é a de total imprevisibilidade
de surpresas constantes, é justamente o contrario,
é a de regularidade e quase monotonia, ora a
complexidade pergunta-se como é que se três
variáveis trazem tanta desordem então
como é que milhares de variáveis trazem
ordem e previsibilidade (mesmo que seja temporária
e muitas vezes ilusória)... de onde vem a ordem?
Que caminhos abriram a Física e a Biologia
às teorias da gestão e das organizações?
Basicamente os caminhos da física e da biologia
estão espelhados nas questões anteriores,
permitiram modelar sistemas em que os agentes agiam
com base me princípios individuais e egoístas
sem comando central sem planeamento e verificar que
nalguns casos os agentes, nestas simulações
de computador, “descobriam” a cooperação,
a competição, a imitação,
a inovação o parasitismo e localmente,
e ao longo do tempo, se sucediam diversos equilíbrios
ora baseados em competição ora baseados
em cooperação ora em períodos de
extinção e renovação ou
revolução.... No fundo permitiu compreender
alguns mecanismos semelhantes em termos de funcionamento
de sociedades ....levou-nos à percepção
de que a redundância e a dissipação
ao contrário do que se pensava (em particular
os economistas obcecados com a maximização)
não são fontes de desperdício mas
são contextos de emergência de novidade
e de mais sofisticação organizacional
e eficácia...
O que tem de ser desmistificado sobre as noções
de valor e de outros critérios de tomada de decisão?
Talvez não haja nada em particular a ser desmistificado....
o valor é uma noção contextual
e histórica .... as noções de valor
formam-se como quaisquer outras noções
na sociedade, resultam de consensos, umas vezes estes
consensos institucionalizam-se e perduram muito tempo
outras vezes são mais voláteis... por
exemplo ainda há setenta anos o conceito de violência
domestica era inexistente, no caso concreto da pergunta
presumo que se referem ao valor económico. E
nesse campo o valor mudou bastante porque a sociedade
atribui, actualmente, valor a coisas intangíveis,
para as quais não temos unidades de medida muito
robustas.... como o conhecimento, a informação,
a segurança, ao contrario das realidades materiais
e energéticas para as quais temos escalas que
resultaram de séculos de ciências “duras”.
Em que consistem as suas teorias psicológicas
e sociológicas da interacção e
da evolução humana?
Consistem numa explicação fenomenológica
(de processo dinâmico eterno) para o processo
comunicacional do qual resulta a emergência dos
valores dos consensos dos instrumentos dos métodos
que em cada contexto e em cada presente, comunidades
humanas escolhem para agir sobre o seu quotidiano, produzindo
escolhas e acções sobre cujo resultado
depois reflectem voltando a discutir utilizando palavras
já usadas no passado ou introduzindo novas palavras
que por vezes levam ao surgimento de novas realidades.
Qual o lugar do conhecimento e da informação
nas vantagens competitivas para as empresas?
O mesmo que sempre teve desde que existem empresas e
organizações humanas. O mesmo que teve
nas campanhas de Cipião por exemplo. O mesmo
que teve para Aníbal quando decidiu atravessar
os Alpes numa das maiores inovações de
guerra.
O que há de novo hoje é que o conhecimento
já não é só um recurso acessório.
É uma “matéria-prima”, é
um processo de transformação e é
no fim um produto final. E aqueles que estiverem presentes
nas indústrias em que isto é assim estão
presentes nas indústrias que dão acesso
a “rendimentos crescentes”. Nós em
Portugal parecemos mais interessados, durante um tempo,
em estarmos mais presentes na denominada economia dos
eventos. Uma economia em que os produtos se esgotam
no acto de produção e consumo e que geram
qualificações ao nível da instrução
primária....
Biografia
Licenciou-se em Gestão pelo
Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa,
e tirou um mestrado em comportamento organizacional
no Instituto Superior de Psicologia Aplicada.
É professor da Universidade Lusíada e
da Universidade Nova de Lisboa.
Entre os seus interesses figura a teoria da complexidade
aplicada à gestão.
Publicou, entre outros, "Complexity and
Innovation in Organizations" Routledge (UK), 2001
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