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#03 | 16 de Abril 2007
         
 



José Manuel da Fonseca
“O conhecimento é uma “matéria-prima”, é um processo de transformação e é um produto final”

 

Que aplicações podem ter as teorias do caos no management?
As teorias do caos já têm aplicação no management. Uma parte dos softwares utilizados hoje em gestão já reflectem, de modo trivial, algoritmos desenvolvidos a partir dos princípios da teoria do caos e da complexidade. Todos os telemóveis têm software “egoísta” que procura servir o seu dono e não a “rede” em que se insere e por isso o comportamento global da rede é melhor. Basicamente o problema é o de que a optimização de sistemas inteiros poderá não ser um problema de investigação operacional, que vise uma mega função optimal de todo o sistema, mas antes resultar do comportamento agregado de pequenas unidades locais que ignorando o sistema como um todo se limitam a tentar melhorar o seu desempenho no contexto limitado e local em que operam. O resultado agregado destes comportamentos egoístas e, por vezes contraditórios e conflituosos, parece ser superior ao resultado que se obtém através de instrumentos de regulação e intervenção centralizados. Isto tem implicações ao nível da teoria organizacional, e ao nível da governação de sociedades... Leva-nos a perceber que as nossas capacidades de previsão devem ser encaradas com mais cepticismo e que nem tudo pode ser comandado a partir de um qualquer centro, que o desenho de projectos deve incorporar muitíssimo mais folgas contextuais e contingenciais e mais gente com capacidade local para intervir sem autorizações de centros distantes...

O que são as ciências da complexidade?
Podemos sintetizar a coisa do seguinte modo. O Caos pergunta como é possível três variáveis em interacção poderem conduzir a comportamentos imprevisíveis e mesmo bizarros. Três simples variáveis como digamos humidade, temperatura e pressão atmosférica.... como é que podemos ter comportamentos explosivos que nos deixam perplexos....A complexidade pergunta mais ou menos o contrario, isto é, apesar de tudo a nossa experiência de estarmos vivos não é a de total imprevisibilidade de surpresas constantes, é justamente o contrario, é a de regularidade e quase monotonia, ora a complexidade pergunta-se como é que se três variáveis trazem tanta desordem então como é que milhares de variáveis trazem ordem e previsibilidade (mesmo que seja temporária e muitas vezes ilusória)... de onde vem a ordem?

Que caminhos abriram a Física e a Biologia às teorias da gestão e das organizações?
Basicamente os caminhos da física e da biologia estão espelhados nas questões anteriores, permitiram modelar sistemas em que os agentes agiam com base me princípios individuais e egoístas sem comando central sem planeamento e verificar que nalguns casos os agentes, nestas simulações de computador, “descobriam” a cooperação, a competição, a imitação, a inovação o parasitismo e localmente, e ao longo do tempo, se sucediam diversos equilíbrios ora baseados em competição ora baseados em cooperação ora em períodos de extinção e renovação ou revolução.... No fundo permitiu compreender alguns mecanismos semelhantes em termos de funcionamento de sociedades ....levou-nos à percepção de que a redundância e a dissipação ao contrário do que se pensava (em particular os economistas obcecados com a maximização) não são fontes de desperdício mas são contextos de emergência de novidade e de mais sofisticação organizacional e eficácia...

O que tem de ser desmistificado sobre as noções de valor e de outros critérios de tomada de decisão?
Talvez não haja nada em particular a ser desmistificado.... o valor é uma noção contextual e histórica .... as noções de valor formam-se como quaisquer outras noções na sociedade, resultam de consensos, umas vezes estes consensos institucionalizam-se e perduram muito tempo outras vezes são mais voláteis... por exemplo ainda há setenta anos o conceito de violência domestica era inexistente, no caso concreto da pergunta presumo que se referem ao valor económico. E nesse campo o valor mudou bastante porque a sociedade atribui, actualmente, valor a coisas intangíveis, para as quais não temos unidades de medida muito robustas.... como o conhecimento, a informação, a segurança, ao contrario das realidades materiais e energéticas para as quais temos escalas que resultaram de séculos de ciências “duras”.

Em que consistem as suas teorias psicológicas e sociológicas da interacção e da evolução humana?
Consistem numa explicação fenomenológica (de processo dinâmico eterno) para o processo comunicacional do qual resulta a emergência dos valores dos consensos dos instrumentos dos métodos que em cada contexto e em cada presente, comunidades humanas escolhem para agir sobre o seu quotidiano, produzindo escolhas e acções sobre cujo resultado depois reflectem voltando a discutir utilizando palavras já usadas no passado ou introduzindo novas palavras que por vezes levam ao surgimento de novas realidades.

Qual o lugar do conhecimento e da informação nas vantagens competitivas para as empresas?
O mesmo que sempre teve desde que existem empresas e organizações humanas. O mesmo que teve nas campanhas de Cipião por exemplo. O mesmo que teve para Aníbal quando decidiu atravessar os Alpes numa das maiores inovações de guerra.
O que há de novo hoje é que o conhecimento já não é só um recurso acessório. É uma “matéria-prima”, é um processo de transformação e é no fim um produto final. E aqueles que estiverem presentes nas indústrias em que isto é assim estão presentes nas indústrias que dão acesso a “rendimentos crescentes”. Nós em Portugal parecemos mais interessados, durante um tempo, em estarmos mais presentes na denominada economia dos eventos. Uma economia em que os produtos se esgotam no acto de produção e consumo e que geram qualificações ao nível da instrução primária....

Biografia
Licenciou-se em Gestão pelo Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa, e tirou um mestrado em comportamento organizacional no Instituto Superior de Psicologia Aplicada.
É professor da Universidade Lusíada e da Universidade Nova de Lisboa.
Entre os seus interesses figura a teoria da complexidade aplicada à gestão.

Publicou, entre outros, "Complexity and Innovation in Organizations" Routledge (UK), 2001

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