Caso não consiga visualizar correctamente esta edição electrónica clique aqui
#20 | 16 de Junho 2008
 
     
 



Francisco Veloso
“Uma nova ideia não é uma inovação por si só. Tem que ser comercializada!”

 

O que é a inovação, de um ponto de vista não-simplista?
A inovação pode ser definida de muitas formas. Vem do Latim innovare (renovar, fazer de novo, alterar), existindo escritos sobre inovação que remontam ao Império Romano.  Mais recentemente, o grande autor que mais contribuiu para promover a noção de inovação como a entendemos hoje foi provavelmente Joseph Schumpeter, que definiu a inovação como “uma nova combinação de elementos existentes, resultando num novo produto, em maior qualidade num produto existente, na introdução de um novo método de produção, ou porventura na obtenção de uma nova fonte de matérias primas” (Schumpeter,1934)
Uma definição usada muitas vezes é aquela proposta no manual de inovação da OCDE, que define inovação tecnológica como sendo “um processo iterativo, iniciado com a percepção de uma oportunidade para a introdução no mercado de um nova invenção baseada em tecnologia que desencadeia uma série de actividades de desenvolvimento, produção e marketing procurando o sucesso comercial desta invenção” (OCDE, 1994)
Uma definição mais simples poderá ser por exemplo: A inovação é a utilização de novo conhecimento (tecnológico ou de marketing) para oferecer novos produtos ou serviços que os clientes desejam. É a invenção mais a comercialização. Uma nova ideia não é uma inovação por si só. Tem que ser comercializada!

Em que consiste a “coerência tecnológica”?
As empresas necessitam de um portfolio de tecnologias para conseguirem desenvolver, produzir e comercializar os seus produtos. Estas tecnologias podem estar relativamente próximas umas das outras do ponto de vista de conhecimentos científicos e tecnológicos. Por exemplo, a produção de plásticos por injecção ou por deformação são duas tecnologias que estão muito próximas porque ambas requerem conhecimentos sobre plástico e sobre a forma como este se comporta quando é aquecido e deformado para produzir um determinado objecto (por exemplo um prato de plástico). Por isso uma empresa que está activa numa delas pode usar os seus conhecimentos com relativa facilidade para iniciar actividades na outra. No entanto, o conhecimento destas tecnologias tem pouca utilidade para produzir peças em alumínio fundido, que requer conhecimentos muito diferentes. O que o meu trabalho demonstra é que uma empresa que procura expandir a sua actividade, tem vantagens em faze-lo mantendo uma certa coerência  no seu portoflio de tecnologias. Assim, se trabalha, por exemplo, em injecção plástica e quer crescer, será melhor começar a trabalhar em deformação plástica antes de pensar em fundição de alumínio. Nem sempre é possível manter uma coerência total porque outros factores de mercado, clientes etc assim o requerem. Mas é importante para a empresa entender que este é o caminho preferível e, em particular, que se tem um portfolio muito diverso de tecnologias vai ser penalizada por isso porque as capacidades e conhecimentos distintivos não podem ser aproveitadas em muitas áreas.

Qual a distância entre a teoria e a prática num mundo em mudança?
Esta distância existe e é real em muitas situações. Por um lado, esta distância é importante para garantir que o trabalho académico pode dedicar-se a avançar o nosso conhecimento sobre o mundo e os seus processos, independentemente das questões específicas e normalmente de curto prazo que uma determinada empresa tem e que resultam do seu objectivo de maximização dos lucros. Por outro lado, cria-se normalmente um fosso entre as duas realidades, argumentando as empresas que o trabalho académico tem pouca relevância e interesse para as suas actividades. No entanto, esta visão está a ser algo ultrapassada porque o significativo aumento do nível de conhecimento e tecnologia nos produtos e processos de hoje gera oportunidades para desenvolver actividades que têm interesse para as empresas e relevância do ponto de vista de avanço do conhecimento simultaneamente. Claro que isso não é verdade para todos os problemas e actividades. Mas se se criarem espaços de diálogo e interacção entre universidades e empresas é possível estabelecer direcções e questões de investigação com estas características. Este fenómeno está hoje patente de forma clara em áreas como a biotecnologia ou os semicondutores, onde a distância entre a investigação académica e a aplicação empresarial é muito reduzida para inúmeros projectos e iniciativas. Mas o mesmo se começa a encontrar em muitas outras áreas.

Em que medida as restrições ambientais condicionam o mercado?
As restrições ambientais condicionam o mercado precisamente porque o seu objectivo é garantir que nós – cidadãos e empresas - prestamos atenção a aspectos que de outra forma não iriamos equacionar nas nossas decisões. Por exemplo é possível admitir que se os automóveis não tivessem catalizadores estes seriam mais baratos, o que poderia ser uma vantagem para mim como indivíduo que compra o carro. Se fosse só eu não haveria grande problema. Mas todos as outras pessoas pensariam como eu e como consequência todos os carros juntos sem catalizador iriam poluir imenso a atmosfera, o que iria depois prejudicar a minha saúde e bem estar. Assim, o estado limita as emissões que um carro pode emitir, garantido que todos contribuimos para um melhor ambiente. Embora se possa pensar que as restrições ambientais aumentam os preços, o que cada vez mais estudos – alguns dos quais liderados por mim - demonstram que estas restrições também estimulam a inovação. Assim, o espírito inventivo das empresas líderes acaba por encontrar forma de dar respostas inovadoras às restrições ambientais, criando factores de diferenciação que as acabam por beneficiar no mercado, algumas vezes no facto específico que é objecto da restrição, mas por vezes também em outros factores. Por exemplo, a necessidade de controlar a ignição do motor de forma electrónica para diminuir a emissão de gases nocivos contribuiu também para o aumento da performance dos mesmos, algo fácil de ver nos actuais motores diesel.

Que “elos de ligação entre o meio académico e a indústria” promoveu o Centro para a Excelência e Inovação na Industria Automóvel (CEIIA)?
Desde a sua criação o CEIIA tem desenvolvido inúmeras actividades de ligação entre estes dois mundos, criando inúmeras oportunidades para alunos de licenciatura e pós graduação aplicarem e desenvolverem as suas actividades com empresas. Talvez a actividade  mais significativa seja a criação de uma rede de “Design Studios” em Universidades, a REDIA. É no contexto da REDIA que são desenvolvidos projectos em colaboração com a industria, que desafia a universidade a desenvolver projectos que, sendo inovadores e académicos, correspondem a necessidades ou oportunidades reais para estas empresas, que participam activamente nos projectos. É no contexto desta rede que o CEIIA participa nas actividades de formação avançada do MIT-Portuga.

Biografia
Engenheiro Físico pelo IST.
Professor na Universidade norte americana de Carnegie Mellon e na Universidade Católica Portuguesa.
Foi um dos cinco premiados este ano pela Fundação Albert Sloan pelo seu trabalho académico ligado à indústria automóvel, sendo também o primeiro português a receber esta distinção da conceituada entidade norte-americana atribuída a jovens investigadores com carreira nos EUA ou no Canadá, nas áreas da ciência, tecnologia e competitividade económica.

email

site
 


ÚLTIMAS ENTREVISTAS
Fernando Nobre, Catarina de Albuquerque e Carlos Reis
SUBSCRIÇÃO/CANCELAMENTO

 
 
     
eventos
Jornadas
Águas

Operação e Gestão de Sistemas Hídricos

8 de Julho
Lisboa

Saiba mais
 
Jornadas
Administração Pública

Business Intelligence na Administração Pública

26 de Junho
Lisboa

Saiba mais
 
Conferência
Intra Gestor de Frotas

Eficiência energética e novos modelos de gestão

09 de Julho
Lisboa

Saiba mais
 
ee
  Intra
Director Financeiro

"Cada cêntimo investido em investigação e no desenvolvimento dos recursos humanos tem um impacto significativo nos resultados e crescimento da organização"
Pedro Carvalho

Saiba mais
 
     
  Interface Saúde
"Já se consegue «percepcionar» uma mudança cultural no seio das organizações em relação aos processos de Gestão de Qualidade"
Pilar Baylina Machado

Saiba mais
 
     
  Interface Administração Pública Local e Regional
"O Orçamento Participativo tem vindo a constituir-se como sede privilegiada pelos munícipes para o levantamento de um vasto conjunto de assuntos de gestão corrente"
Isabel Conceição

Saiba mais
 
     
  Interface Banca&Seguros
"As apólices de RC são uma prática de gestão correcta em qualquer país e empresa"
Nuno Simão Antunes

Saiba mais
 
     
  Defrente
Estratégia

"O Português
arrisca-se a ser reduzido à dimensão do Galego"
Carlos Reis

Saiba mais
 
Edição António Coxito Design Luís Silva Produção Margarida Soares Publicidade Bruno Reis
Esta mensagem está de acordo com a legislação Europeia sobre o envio de mensagens comerciais: qualquer mensagem deverá estar claramente identificada com os dados do emissor e deverá proporcionar ao receptor a hipótese de ser removido da lista. Para ser removido da nossa lista, basta que nos responda a esta mensagem colocando a palavra "Remover" no assunto. (Directiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu; Relatório A5-270/2001 do Parlamento Europeu).