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#02 | 12 de Março 2007
         
 



António Costa Silva
"A inacção pode significar a aproximação rápida aos limites de sustentabilidade"
(2ª parte)

 

Sendo o sector dos transportes um dos mais gastadores e poluentes, o que advoga em termos de energias alternativas?
Para o sector dos transportes é importante a aposta nos carros híbridos que utilizam um motor eléctrico para baixas velocidades e cuja eficiência na utilização de combustível pode aumentar de 10% a 15%.
A promoção dos carros “Flexi-fuel” que podem utilizar uma mistura de gasolina com bioetanol ou de diesel com biodiesel, é também importante para o futuro pois a utilização correcta dos biocombustíveis pode provocar uma diminuição nas emissões de dióxido de carbono que vai de 50 a 80%, conforme o comprova um estudo recente do Departamento de Energia e do Departamento da Agricultura do Governo dos Estados Unidos da América.
O estímulo à fabricação de veículos mais leves e com materiais mais flexíveis é também imperativo. Estes veículos (“light-advanced vehicles”) incorporam todo um conjunto de avanços tecnológicos ao nível do motor, sistema de transmissão, materiais, bombas electrónicas, etc. e podem propiciar economias de combustível de cerca de 15% a 20%.
A promoção e estímulo dos biocombustíveis através de políticas que incentivem o seu uso é importante para se implementar a Directiva da UE de exigir a utilização de cerca de 5.75% de biocombustíveis no sistema de transportes europeu, até 2010. Hoje o uso é inferior a 2% e há um “gap” a ser preenchido em termos de produção e uso dos biocombustíveis para responder à directiva europeia.
Finalmente, a aposta na inovação e teste de carros movidos a hidrogénio, com a utilização de baterias de combustível (“fuel-cells”) que combinam oxigénio e hidrogénio para produzir electricidade, é talvez a ruptura que o sistema de transportes necessita para o futuro.
Mas para isso há que tornar viável a utilização do hidrogénio, descobrir formas de o produzir que sejam economicamente competitivas e ver a melhor maneira de construir as infra-estruturas de distribuição sem descurar as questões de segurança e operacionalidade.

Que estratégia deve seguir um cluster energético em portugal?
A estratégia deve apoiar-se nos seguintes vectores essenciais: aposta nos recursos endógenos, redução da dependência energética do exterior, desenvolvimento de um modelo energético híbrido e flexível capaz de promover projectos integrados e auto-sustentáveis. Esta estratégia não pode ignorar que os combustíveis fósseis, em especial o petróleo e o gás, ainda vão dominar por algumas décadas o modelo energético mas é muito importante que os combustíveis fósseis sejam utilizados onde são realmente necessários e, ao mesmo tempo, se desenvolvam políticas públicas justas e competitivas para reduzir o seu peso no “mix” energético. Para isso é importante continuar a apostar nas energias renováveis, consolidar e expandir a eólica, criar condições para o desenvolvimento da energia solar, quer a fotovoltaica para a produção da electricidade, quer a solar térmica para o aquecimento e estimular os programas de aproveitamento da energia das ondas. O cluster das energias renováveis tem de ligar-se a um programa nacional sólido que aposte na racionalização energética dos edifícios. É muito importante que este programa promova a micro-geração massiva para os edifícios e habitações domésticas com o intuito de criar as chamadas “zero-energy homes” isto é, casas auto-sustentáveis do ponto de vista energético. A micro-geração massiva apela à utilização da energia solar, de micro-turbinas eólicas, de bombas de calor, de micro-hídricas, para aumentar a auto-sustentabilidade dos edifícios e fazer crescer significativamente a quota de electricidade produzida a partir de fontes renováveis. Por último é necessário não esquecer a Biomassa: Portugal tem 35% do solo coberto por floresta e a utilização dos resíduos florestais, dos resíduos urbanos e do lixo para a sua transformação em recursos como biocombustíveis, é importante do ponto de vista estratégico para poder desenvolver o interior do país e criar uma indústria nacional de base tecnológica.
A substituição progressiva do gás, carvão e óleo na produção de electricidade é também um aspecto crucial e para isso é necessário maximizar a utilização do potencial hidroeléctrico do país.
O aproveitamento hidroeléctrico actual está longe de esgotar o potencial existente e é importante não desperdiçar este recurso endógeno que pode contribuir para reduzir a dependência do exterior e diminuir a factura energética do país.
Finalmente, ao nível dos transportes, um novo modelo energético deve privilegiar as culturas que sejam energeticamente aconselháveis e que possam ser aproveitadas para o fabrico de biocombustíveis como o biodiesel e o bioetanol. Uma boa gestão dos solos abandonados, em especial no Alentejo, e uma boa política de promoção dos biocombustíveis pode gerar mais uma indústria nacional de base tecnológica e contribuir para a sustentabilidade do modelo energético português.
Toda esta estratégia não irá longe se não se estimularem programas de inovação que favoreçam a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias competitivas quer a nível da energia solar e da energia das ondas, quer ao nível das nanotecnologias, dos biocombustíveis ou das redes eléctricas multi-centradas. O mercado deve funcionar de forma aberta, os “subsídios” só são aceitáveis num período inicial para lançar as novas energias e passado esse período de “feed-in”, elas devem provar a sua competitividade e a sua capacidade de oferta de alternativas sólidas e eficazes.

Como vê a questão dos limites de sustentabilidade dos ecosistemas face à acção do homem?
Os limites de sustentabilidade dos ecosistemas podem aproximar-se perigosamente, durante o séc. XXI, do seu ponto de ruptura. Antes da Revolução Industrial a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera era de 280 partes por milhão (ppm). Hoje aproxima-se dos 400 ppm e com o ritmo frenético de consumo de combustíveis fósseis, é possível que neste século se chegue aos 560 ppm. Em 1896 o químico sueco Arrhenius fez uma das mais espantosas previsões da história da ciência: ele disse que se a concentração de CO2 duplicasse relativamente aos níveis anteriores à revolução industrial, a temperatura da Terra podia aumentar cerca de 4º C.
Esta previsão está em consonância com a dos mais modernos modelos climáticos cujos cálculos são feitos com super-computadores. O problema, como mostrou o recente relatório do Painel Climático Inter-Governamental da ONU, é que esse aumento de temperatura pode inviabilizar a vida na Terra e precipitar a ocorrência de eventos extremos como furacões, secas, inundações, subida do nível do mar, degelo dos glaciares. É evidente que os modelos climáticos contêm muitas incertezas porque o clima é um dos sistemas mais complexos que existem para ser modelado matematicamente. Mas o debate durante muito tempo centrou-se nas incertezas da ciência. O relatório de Nicholas Stern feito em 2006 para o governo inglês trouxe este debate para o terreno da economia. Ele mostrou que, se nada se fizer, o PIB global do planeta vai diminuir cerca de 20% nas próximas décadas. Se actuarmos já é preciso gastar 1% do PIB global para salvar os outros 20%.
Esta aposta faz sentido do ponto de vista ambiental e é economicamente atractiva. A inacção pode significar a aproximação rápida aos limites de sustentabilidade dos ecosistemas incluindo o ecosistema humano. E o melhor conceito de sustentabilidade, que foi expresso no Relatório Brundtland de 1987, estipula que a sustentabilidade é a capacidade de satisfazer as necessidades das gerações actuais sem pôr em causa as necessidades das gerações futuras. Estamos face a um teste decisivo para ganhar o futuro.

Biografia
Presidente do Conselho de Administração do grupo Partex Oil and Gas

Qualificação Académica:
Agregação em Planeamento e Gestão Integrada de Recursos Energéticos, 2002, Instituto Superior Técnico
PhD em «Development of stochastic models applied to petroleum reservoirs»,1993, Technical University of Lisbon/London Imperial College
Assigned Member of the Imperial College of Science and Technology, London University, 1984
Mestrado em Petroleum Engeneering, 1984, Imperial College of Science and Technology, London University
Licenciatura em Engenharia de Minas, 1983, Instituto Superior Técnico

Principais Áreas Científicas de Investigação:
Caracterização de reservatórios e modelização integrando geologia e geofísica
Simulação dinâmica de modelos
Caracterização matemática e estocástica de reservatórios de fluídos
Gestão de reservatórios e desenho de planos de desenvolvimento

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