Sendo o sector dos transportes
um dos mais gastadores e poluentes, o que advoga em
termos de energias alternativas?
Para o sector dos transportes é importante a
aposta nos carros híbridos que utilizam um motor
eléctrico para baixas velocidades e cuja eficiência
na utilização de combustível pode
aumentar de 10% a 15%.
A promoção dos carros “Flexi-fuel”
que podem utilizar uma mistura de gasolina com bioetanol
ou de diesel com biodiesel, é também importante
para o futuro pois a utilização correcta
dos biocombustíveis pode provocar uma diminuição
nas emissões de dióxido de carbono que
vai de 50 a 80%, conforme o comprova um estudo recente
do Departamento de Energia e do Departamento da Agricultura
do Governo dos Estados Unidos da América.
O estímulo à fabricação
de veículos mais leves e com materiais mais flexíveis
é também imperativo. Estes veículos
(“light-advanced vehicles”) incorporam todo
um conjunto de avanços tecnológicos ao
nível do motor, sistema de transmissão,
materiais, bombas electrónicas, etc. e podem
propiciar economias de combustível de cerca de
15% a 20%.
A promoção e estímulo dos biocombustíveis
através de políticas que incentivem o
seu uso é importante para se implementar a Directiva
da UE de exigir a utilização de cerca
de 5.75% de biocombustíveis no sistema de transportes
europeu, até 2010. Hoje o uso é inferior
a 2% e há um “gap” a ser preenchido
em termos de produção e uso dos biocombustíveis
para responder à directiva europeia.
Finalmente, a aposta na inovação e teste
de carros movidos a hidrogénio, com a utilização
de baterias de combustível (“fuel-cells”)
que combinam oxigénio e hidrogénio para
produzir electricidade, é talvez a ruptura que
o sistema de transportes necessita para o futuro.
Mas para isso há que tornar viável a utilização
do hidrogénio, descobrir formas de o produzir
que sejam economicamente competitivas e ver a melhor
maneira de construir as infra-estruturas de distribuição
sem descurar as questões de segurança
e operacionalidade.
Que estratégia deve seguir um cluster
energético em portugal?
A estratégia deve apoiar-se nos seguintes vectores
essenciais: aposta nos recursos endógenos, redução
da dependência energética do exterior,
desenvolvimento de um modelo energético híbrido
e flexível capaz de promover projectos integrados
e auto-sustentáveis. Esta estratégia não
pode ignorar que os combustíveis fósseis,
em especial o petróleo e o gás, ainda
vão dominar por algumas décadas o modelo
energético mas é muito importante que
os combustíveis fósseis sejam utilizados
onde são realmente necessários e, ao mesmo
tempo, se desenvolvam políticas públicas
justas e competitivas para reduzir o seu peso no “mix”
energético. Para isso é importante continuar
a apostar nas energias renováveis, consolidar
e expandir a eólica, criar condições
para o desenvolvimento da energia solar, quer a fotovoltaica
para a produção da electricidade, quer
a solar térmica para o aquecimento e estimular
os programas de aproveitamento da energia das ondas.
O cluster das energias renováveis tem de ligar-se
a um programa nacional sólido que aposte na racionalização
energética dos edifícios. É muito
importante que este programa promova a micro-geração
massiva para os edifícios e habitações
domésticas com o intuito de criar as chamadas
“zero-energy homes” isto é, casas
auto-sustentáveis do ponto de vista energético.
A micro-geração massiva apela à
utilização da energia solar, de micro-turbinas
eólicas, de bombas de calor, de micro-hídricas,
para aumentar a auto-sustentabilidade dos edifícios
e fazer crescer significativamente a quota de electricidade
produzida a partir de fontes renováveis. Por
último é necessário não
esquecer a Biomassa: Portugal tem 35% do solo coberto
por floresta e a utilização dos resíduos
florestais, dos resíduos urbanos e do lixo para
a sua transformação em recursos como biocombustíveis,
é importante do ponto de vista estratégico
para poder desenvolver o interior do país e criar
uma indústria nacional de base tecnológica.
A substituição progressiva do gás,
carvão e óleo na produção
de electricidade é também um aspecto crucial
e para isso é necessário maximizar a utilização
do potencial hidroeléctrico do país.
O aproveitamento hidroeléctrico actual está
longe de esgotar o potencial existente e é importante
não desperdiçar este recurso endógeno
que pode contribuir para reduzir a dependência
do exterior e diminuir a factura energética do
país.
Finalmente, ao nível dos transportes, um novo
modelo energético deve privilegiar as culturas
que sejam energeticamente aconselháveis e que
possam ser aproveitadas para o fabrico de biocombustíveis
como o biodiesel e o bioetanol. Uma boa gestão
dos solos abandonados, em especial no Alentejo, e uma
boa política de promoção dos biocombustíveis
pode gerar mais uma indústria nacional de base
tecnológica e contribuir para a sustentabilidade
do modelo energético português.
Toda esta estratégia não irá longe
se não se estimularem programas de inovação
que favoreçam a pesquisa e desenvolvimento de
tecnologias competitivas quer a nível da energia
solar e da energia das ondas, quer ao nível das
nanotecnologias, dos biocombustíveis ou das redes
eléctricas multi-centradas. O mercado deve funcionar
de forma aberta, os “subsídios” só
são aceitáveis num período inicial
para lançar as novas energias e passado esse
período de “feed-in”, elas devem
provar a sua competitividade e a sua capacidade de oferta
de alternativas sólidas e eficazes.
Como vê a questão dos limites
de sustentabilidade dos ecosistemas face à acção
do homem?
Os limites de sustentabilidade dos ecosistemas podem
aproximar-se perigosamente, durante o séc. XXI,
do seu ponto de ruptura. Antes da Revolução
Industrial a concentração de dióxido
de carbono (CO2) na atmosfera era de 280 partes por
milhão (ppm). Hoje aproxima-se dos 400 ppm e
com o ritmo frenético de consumo de combustíveis
fósseis, é possível que neste século
se chegue aos 560 ppm. Em 1896 o químico sueco
Arrhenius fez uma das mais espantosas previsões
da história da ciência: ele disse que se
a concentração de CO2 duplicasse relativamente
aos níveis anteriores à revolução
industrial, a temperatura da Terra podia aumentar cerca
de 4º C.
Esta previsão está em consonância
com a dos mais modernos modelos climáticos cujos
cálculos são feitos com super-computadores.
O problema, como mostrou o recente relatório
do Painel Climático Inter-Governamental da ONU,
é que esse aumento de temperatura pode inviabilizar
a vida na Terra e precipitar a ocorrência de eventos
extremos como furacões, secas, inundações,
subida do nível do mar, degelo dos glaciares.
É evidente que os modelos climáticos contêm
muitas incertezas porque o clima é um dos sistemas
mais complexos que existem para ser modelado matematicamente.
Mas o debate durante muito tempo centrou-se nas incertezas
da ciência. O relatório de Nicholas Stern
feito em 2006 para o governo inglês trouxe este
debate para o terreno da economia. Ele mostrou que,
se nada se fizer, o PIB global do planeta vai diminuir
cerca de 20% nas próximas décadas. Se
actuarmos já é preciso gastar 1% do PIB
global para salvar os outros 20%.
Esta aposta faz sentido do ponto de vista ambiental
e é economicamente atractiva. A inacção
pode significar a aproximação rápida
aos limites de sustentabilidade dos ecosistemas incluindo
o ecosistema humano. E o melhor conceito de sustentabilidade,
que foi expresso no Relatório Brundtland de 1987,
estipula que a sustentabilidade é a capacidade
de satisfazer as necessidades das gerações
actuais sem pôr em causa as necessidades das gerações
futuras. Estamos face a um teste decisivo para ganhar
o futuro.
Biografia
Presidente do Conselho de Administração
do grupo Partex Oil and Gas
Qualificação Académica:
Agregação em Planeamento e Gestão
Integrada de Recursos Energéticos, 2002, Instituto
Superior Técnico
PhD em «Development of stochastic models applied
to petroleum reservoirs»,1993, Technical University
of Lisbon/London Imperial College
Assigned Member of the Imperial College of Science and
Technology, London University, 1984
Mestrado em Petroleum Engeneering, 1984, Imperial College
of Science and Technology, London University
Licenciatura em Engenharia de Minas, 1983, Instituto
Superior Técnico
Principais Áreas Científicas
de Investigação:
Caracterização de reservatórios
e modelização integrando geologia e geofísica
Simulação dinâmica de modelos
Caracterização matemática e estocástica
de reservatórios de fluídos
Gestão de reservatórios e desenho de planos
de desenvolvimento
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