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#19 | 19 de Maio 2008
 
     
 



Carlos Reis
“O Português arrisca-se a ser reduzido à dimensão do Galego”

 

Como berço da Língua Portuguesa, que direitos deve reclamar Portugal na legislação da sua evolução?
Julgo que Portugal não poderá invocar outros direitos que não sejam os direitos morais. E mesmo esses de forma, digamos, diplomática, porque, como já foi dito milhares de vezes, não somos donos da língua. Os outros países em que o Português é idioma oficial contribuem também, cada um à sua maneira, para o refinamento do idioma e para a sua afirmação como grande língua de cultura. Neste como noutros domínios a reivindicação de direitos deve dar lugar à negociação e ao entendimento.

Num mundo em que o inglês se afirmou definitivamente como um esperanto, a estratégia para defender as línguas minoritárias deve ser por aliança e esbatimento das suas diferenças ou pela valorização de nichos e afirmação das suas especificidades?
Não creio que o Português seja uma língua minoritária. Quando muito, é uma língua cuja influência e projecção  internacionais são proporcionalmente inferiores ao peso demográfico dos mais de 200 milhões que falam Português. Não tenho dúvidas, entretanto, de que uma estratégia viável para a afirmação internacional do Português passa inevitavelmente pela conjugação de esforços entre todos os países de língua oficial portuguesa. O que nunca chegará para pôr em causa as singularidades locais da língua.

Os artistas, nomeadamente os poetas, como deverão relacionar-se com as regras propostas?
Os poetas - os escritores, de um modo geral - estão na vantajosa situação de trabalharem a língua sob o signo da criatividade e, às vezes, da derrogação da norma. A impositividade da regra é, nesse contexto,  saudavelmente limitada. O que não significa que os escritores, mesmo quando são considerados "subversivos", no plano da língua, não possam depois ser reconhecidos como os inovadores que apontam o caminho que mais tarde o idioma acaba por seguir. Garrett e Eça foram considerados, no seu tempo, transgressores da norma e mesmo ignorantes do vernáculo e são hoje modelos de uma língua literária ainda extraordinariamente sedutora.

Que riscos corre o Português de Portugal de vir a ser considerado um dialecto em relação ao Português do Brasil?
Se Portugal não acompanhar o Brasil numa política de língua com comuns objectivos estratégicos, acabará por ser ultrapassado por um país com um número de falantes que é quase vinte vezes superior aos do Português de Portugal. Isto a par de  uma influência política e de um poder económico esmagadores, quando comparados com a dimensão portuguesa. Sendo assim, se não houver a tal sintonia estratégica e se se acentuarem as diferenças, o Português arrisca-se a ser reduzido à dimensão do Galego.

O que caracteriza a identidade de uma língua?
A meu ver, a identidade de uma língua está sobretudo nos conceitos,  nas representações e nas modulações que plasmam uma visão do mundo que tem que ver com a História, com a memória colectiva, com a paisagem, com os modismos e com a criativa singularidade da criação literária que a passagem do tempo foi legando. Significa isto, por outro lado, que na grafia há muito mais convenção transitória (e hábitos superáveis) do que a densidade identitária que é própria do léxico, da sintaxe ou da entoação da pronúncia.

Biografia
Reitor da Universidade Aberta
Licenciou-se em Filologia Românica em 1974, doutorou-se em Literatura Portuguesa em 1983 e obteve o título de agregado em 1989, sempre pela Universidade de Coimbra. É professor catedrático desde 1990.
Publicou mais de uma dezena de livros, tendo-se consagrado em especial ao estudo da obra de Eça de Queirós e da sua geração.
Um dos mais acérrimos defensores do acordo ortográfico da Língua Portuguesa.

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