O que é que caracteriza um perfume ecológico?
Considera-se um perfume ecológico aquele que seja elaborado com matérias primas que não provoquem efeitos secundários negativos ao homem ou ao ambiente. Existem actualmente normas europeias que restringem o uso ou a quantidade máxima de determinados compostos químicos que podem (ou não) ser utilizados em perfumes.  Por esse motivo, hoje em dia o consumidor pode consultar a embalagem de um perfume e verificar se tem alergia a algum de 26 compostos que são obrigatórios declarar, caso existam nesse perfume. Neste momento ainda somente 26 compostos estão sob vigilância, mas essa lista tenderá certamente a aumentar. Mas não é um processo fácil… existem neste momento mais de 500 produtos naturais e 5.000 artificiais que são de utilização em perfumaria, para além dos novos compostos que estão constantemente a surgir, resultado de investigações várias.

Como se modela o tempo de acção de um perfume sobre o corpo?
Um perfume é constituído por 3 tipos de matérias primas:
(a) notas de topo: materiais mais voláteis, são perceptíveis após uns segundos ou breves minutos, desaparecendo de seguida.
(b) notas médias: materiais com duração de várias horas, dando a característica principal a um perfume.
(c) notas de base: matérias conhecidos pela sua durabilidade; podem durar mais de 8 horas (ou até alguns dias). Para além de terem um cheiro mais persistente que as notas de topo e médias, as notas de base actuam como fixativos das notas de topo e médias, fazendo deste modo com que um perfume possa durar mais tempo, mantendo as suas características constantes.
A duração de um perfume no corpo, após a aplicação varia consoante (a) as matérias primas utilizadas (por exemplo, usando maior ou menor quantidade de fixativos), (b) a concentração das essências: por exemplo, uma EDT (eau de toillete) possui uma concentração de essências à volta de 8-12%, sendo o restante álcool e água; no caso de uma EDP (eau de parfum) a concentração é de 12-14%, tendo um impacto olfactivo e persistência bastante superiores aos da EDT; (c) não se pode esquecer também que essa durabilidade varia de pessoa para pessoa: uma pessoa com uma temperatura corporal superior, mantém o perfume no corpo menos tempo; por outro lado, uma pessoa com pele seca mantém o perfume menos tempo que outra que use o mesmo perfume mas que tenha pele oleosa. Curiosidades da perfumaria…

Que plantas anteriormente existentes no nosso país desapareceram e porquê?
Desde há muitas décadas que se estudam as potencialidades das plantas nacionais para utilização em perfumaria. Foram várias as tentativas para as utilizar para extracção de óleos essências, a uma escala industrial, como é o caso da esteva. No entanto, a pequena dimensão do nosso país versus o extremamente pequeno rendimento de óleo essencial neste tipo de plantas, impossibilita a sua exploração de uma forma sustentável. Somente plantas com alto rendimento, como é o caso do eucalipto, permite que sejam produzidas essências em quantidades consideradas aceitáveis economicamente. No entanto, o óleo de eucalipto é uma matéria prima de baixo valor acrescentado, e o preço não é competitivo quando comparado com países de maior dimensão florestal, nomeadamente os países de leste e do oriente.
De facto, são variadíssimas as plantas existentes em Portugal com cheiros fantásticos: gerânios, mentas, estevas, alfazemas, etc. Mas como estas plantas têm todas baixos rendimentos, a sua exploração só poderia ser rentável se feita de uma forma cooperativista e coordenada (como se faz com os vinhos, por exemplo), de um número reduzido de espécies. O lema do “um por todos e todos por uma planta” teria de prevalecer…

Qual a finalidade do “Perfume Ternary Diagram”?
Um perfume é uma mistura designada termodinamicamente por “mistura não-ideal”. Significa assim que o facto de uma matéria prima existir em maior quantidade, poderá não significar que seja essa a que vai ter o cheiro mais intenso. Tomemos como exemplo um perfume que contenha na sua composição o aroma de limão (cujo principal composto é o limoneno, um composto apolar) e aroma de baunilha (neste caso, o principal composto é a vanilina, um composto químico extremamente polar). Quando os dois se encontram numa solução alcoólica – perfume, neste caso – coisas interessantes acontecem. Se existir demasiado aroma de baunilha (vanilina), o limão como tem uma polaridade oposta à da vanilina vai ter tendência a sair da solução alcoólica, e partir para a fase vapor. Ou seja, mais baunilha implica maior cheiro a limão e vice-versa.
Esta foi uma das inovações do PTD: perfumery ternary diagram ® (conceito registado no INPI). O PTD permite prever teoricamente qual o cheiro resultante de uma mistura ternária num conjunto infinito de outros produtos em solução em concentração constante, qualquer se seja a proporção desses 3 compostos na mistura.
Para além disso, o conceito PTD foi associado a um simulador de evaporação de quantidades pequenas de líquidos não ideais, resultando numa ferramenta que permite prever também teoricamente qual a evolução do cheiro ao longo do tempo, de um perfume, após aplicação.
Na prática, este modelo vem assim reduzir significativamente o tempo de testes – que normalmente é feito por tentativa e erro – para descobrir qual a concentração apropriada para que uma mistura ternária (existente numa mistura de base fixa) tenha determinado cheiro. Poupa-se deste modo imenso tempo e matérias-primas.

Quais as classes de aromas mais interessantes do ponto de vista comercial?
A alta perfumaria assenta hoje em dia sofregamente na química orgânica. Quero assim dizer que quando vemos na TV ou numa perfumaria o lançamento de um perfume associado a um designer famoso, provavelmente esse perfume foi concebido por uma empresa detentora da patente de fabrico de um novo composto sintetizado artificialmente a uma escala industrial. Esse composto pode ter sido descoberto na natureza – podia existir por exemplo, numa determinada planta em quantidades residuais – ou podia simplesmente ser fruto de um exaustivo trabalho de sínteses orgânicas sucessivas, à procura de uma nova fragrância… é este o maior dilema da perfumaria actual: é considerar que não está tudo descoberto, e que novas sensações olfactivas são possíveis, a partir de muito trabalho de laboratório.

Biografia
Doutorada em Engenharia Química e Investigadora da FEUP.
A seu trabalho tem como objectivo a criação de um perfume com base em óleos essenciais e compostos químicos obtidos a partir de recursos naturais e usando tecnologias limpas que revolucione o processo global de produção e criação de perfumes.