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#90 | 09 Julho 2007
   
         
 



Mónica Bettencourt Dias
“A mitose é um processo extremamente eficiente”

 

Como é que se forma o centrossoma?
O centrossoma é como um centro de controlo da célula: lá se definem e saem as estradas por onde andam as moléculas – os microtúbulos. Como num parlamento, lá se encontram e se modificam muitas das moléculas que regulam a célula. O centrossoma contribui também para garantir que a divisão do material genético se faz sempre de uma forma fidedigna. Neste processo, dois centrossomas colocam-se em pólos opostos da célula e formam “estradas” que se estendem dos pólos até ao centro, onde estão os cromossomas. Os cromossomas seguem essas estradas para viajar para os pólos. Este processo dá origem a duas células novas e independentes com o mesmo número e conteúdo de cromossomas, isto é, o mesmo material genético. É muito importante que não haja perda ou ganho de material genético, pois esses erros estão associados ao cancro. Quando uma célula nasce ela tem apenas um centrossoma. Para que ela dê origem a duas células novas tem de se formar um novo centrossoma. Nós mostrámos que a molécula que tem os “planos de construção” deste novo centrossoma chama-se SAK. Na sua ausência não se formam centrossomas, no seu excesso formam-se muitas destas estruturas. Nós estamos a tentar perceber neste momento o que é que esses planos são, nomeadamente quais são as outras moléculas envolvidas neste processo.

Em que casos a reprodução de células prescinde do centrossoma?
Algumas células multiplicam-se normalmente sem centrossomas. Isto porque as estradas (microtúbulos) que referi acima, por onde os cromossomas viajam para os pólos para formar cada uma das células novas, podem ser formadas por mecanismos alternativos que não dependem dos centrossomas. O Helder Maiato, investigador no IBMC, e a Renata Basto, investigadora em Cambridge, têm feito contribuições muito importantes para perceber esses mecanismos. Muitas das nossas células utilizam os dois mecanismos simultaneamente, talvez para garantir que a divisão do material genético é perfeita e não ocorrem erros. As células germinais femininas não têm centrossomas. Especula-se que é para garantir que o ovo só se desenvolve após fertilização, pois é o espermatozóide que traz o centrossoma.

Que passos terão de ser dados para testar a hipótese de este processo ser associado ao cancro?
É preciso fazer uma melhor caracterização de vários tipos de cancro para perceber se a alteração do número de centrossomas é realmente algo que ocorre muito cedo no cancro. Será também importante manipular experimentalmente o número destas estruturas e ver se estas alterações podem levar ao aparecimento de cancro em modelos experimentais. Será também muito interessante perceber se estas moléculas que estão associadas à formação destas estruturas, como a molécula SAK, estão alteradas no cancro.

O que há de miraculoso na mitose?
A multiplicação das células no organismo (mitose) é o fenómeno que permite aos organismos desenvolver-se desde o ovo (ou embrião) até ao estado adulto. É no entanto também um processo que pode estar desregulado no nosso corpo, levando à formação de massas de células onde elas não deveriam estar, um processo que acontece no cancro. No fim de cada ciclo de multiplicação de uma célula, o material genético tem de ser dividido entre as duas células que se formam. Esse processo chama-se mitose. Como disse na primeira pergunta é muito importante que não haja perda ou ganho de material genético, pois esses erros estão associados ao cancro. A mitose é um processo muito bem articulado e raramente acontecem esses erros, dai ser um processo extremamente eficiente.

Biografia
Concluiu a licenciatura em Bioquímica, pela FCUL, em 1996. Cinco anos depois obteve o doutoramento em Bioquímica e Biologia Molecular, na University College London.
Coordenou a primeira investigação sistemática sobre o modo como um grupo de moléculas regula a multiplicação de células no Departamento de Genética da Universidade de Cambridge.
Já publicou artigos sobre este tema em revistas científicas, nomeadamente na Nature. Começou o seu trabalho de laboratório em Outubro de 2006 no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC).

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