Caso não consiga visualizar correctamente esta edição electrónica clique aqui
#89 | 25 Junho 2007
   
         
 



Pedro Vieira
“A tecnologia usada para a detecção de incêndios é semelhante à que uso na área da oftalmologia”

 

O que é a análise química espectral?
A técnica que usamos é mais precisamente análise espectral óptica e de uma forma sucinta baseia-se no facto de diferentes compostos químicos absorverem de forma diferenciada os comprimentos de onda da luz. Cada comprimento de onda vai corresponde a uma cor, podendo estas cores ir desde os ultravioletas até ao infravermelho. Por exemplo, quando olha para uma parede pintada de vermelho, o que acontece é que o pigmento da tinta está a absorver todas as cores visíveis excepto o vermelho, que acaba por ser reflectido. Se medirmos a reflectividade com equipamento adequado (espectrómetro) podemos saber muito sobre a composição química desse pigmento.

Como é que o Forest Fire Finder (F3) distingue o fumo de uma nuvem?
O F3 usa espectroscopia óptica. Como a composição química do fumo é diferente da de uma nuvem, que é só água, o que vai acontecer é que os comprimentos de onda absorvidos pelo fumo vão ser distintos dos absorvidos pela nuvem, conseguindo assim fazer-se a distinção.

Estando o país apenas parcialmente coberto pelas redes telefónicas móveis, como pensa solucionar a transmissão de dados do F3 para a estrutura nacional?
O F3 foi construído de forma a poder usar qualquer tipo de comunicação que esteja disponível. No limite, pode apenas limitar-se a enviar um SMS com a direcção do incêndio. No território nacional, usando antenas de alto ganho ou direccionais, é possível enviar SMS praticamente em qualquer lugar. No entanto, tentamos ter sempre transmissão de dados com uma maior largura de banda pois isso permite, por exemplo, também transmitir imagens dos incêndios, o que pode ser útil para o planeamento do combate ao evento. Para solucionar isso a solução por nós preferida é existir um feixe de dados a interligar as diferentes torres, estando apenas algumas delas ligadas, por exemplo, à internet. Caso nenhuma solução tradicional seja possível podem sempre usar-se comunicações por satélite, que neste momento já são economicamente competitivas para a quantidade de dados que necessitamos de transmitir.

Como é que um engenheiro biomédico se envolve com as tecnologias de detecção de incêndios?
No fundo, a tecnologia que está a ser usada para a detecção de incêndios é muito semelhante à tecnologia que uso nos projectos na área da oftalmologia. A diferença de se estar a observar os espectros do fundo do olho (retina) ou a fazer detecções de incêndios por espectroscopia, é que no segundo caso o telescópio tem de ser muito mais poderoso e o varrimento (taxa a que se repetem as medidas) é muito mais lento. Obviamente que a forma como se interpretam os dados é um pouco diferente; enquanto na oftalmologia se está a tentar observar alterações bioquímicas da retina de forma a diagnosticar eventuais doenças, no caso da detecção de incêndios verificam-se as alterações bioquímicas da atmosfera.

Que sugestões propõe para uma mais estreita ligação entre a Universidade e a indústria?
Esta é uma pergunta complicada. No fundo, acho que o problema é muito cultural; nem as universidades estão habituadas a colaborar com a indústria nem a indústria encontra necessidade de colaborar com as universidades. Falando apenas na colaboração com as faculdades de engenharia e ciências, na minha opinião essa colaboração é mais eficiente quando existem componentes de desenvolvimento tecnológico e/ou cientifico envolvidas. Isso implica que exista uma indústria que encontre uma necessidade real nesse desenvolvimento e uma universidade com a flexibilidade suficiente para se adaptar e responder a essas necessidades. Neste momento nota-se uma maior dinamização dessas colaborações mas ainda existe um longo percurso a percorrer se queremos ficar competitivos. Também acho que as ‘startups’ que são criadas nas próprias universidades podem vir a dinamizar este relacionamento, mas estamos a falar de algo em que ainda existe pouca experiência e em que os casos de sucesso, embora existam e sejam significativos, ainda são muito pontuais.

Biografia
Autor do sistema Forest Fire Finder (F3), que utiliza uma tecnologia já antiga (análise química espectral) para a detecção precoce de incêndios florestais.

Doutor pelo Departamento de Física Biomédica e Bio-Engenharia da Universidade de Aberdeen, UK.
Mestre pelo Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica (IBEB) da Universidade de Lisboa.
Licenciatura em Física Tecnológica pela Universidade de Lisboa.

Áreas de investigação:
Espectroscopia de fluorescência resolvida no tempo aplicada ao diagnóstico médico.
Detecção automática de drusas em imagens de retinografia.
Detecção automática de incêndios florestais por espectroscopia óptica.

email

site

 
 
 
 


ÚLTIMAS ENTREVISTAS
Dário Passos, Patrícia Castro, Inês Gonçalves
SUBSCRIÇÃO/CANCELAMENTO

 

 
Edição António Coxito Design Luís Silva Produção Ricardo Melo Publicidade Sílvia Prestes
 
Esta mensagem está de acordo com a legislação Europeia sobre o envio de mensagens comerciais: qualquer mensagem deverá estar claramente identificada com os dados do emissor e deverá proporcionar ao receptor a hipótese de ser removido da lista. Para ser removido da nossa lista, basta que nos responda a esta mensagem colocando a palavra "Remover" no assunto. (Directiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu; Relatório A5-270/2001 do Parlamento Europeu).