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#85 | 23 Abril 2007
   
         
 



Mário João Monteiro
“A vida da estrela é uma sequência de tentativas de impedir que o seu peso a destrua”

 

O que se passa no interior de uma estrela?
Uma estrela é uma esfera de gás que está sujeita ao seu próprio peso.
Assim a vida da estrela é uma sequência de tentativas (algumas com sucesso mas outras não) de impedir que o seu peso a destrua.
Neste processo uma estrela como o nosso Sol consegue encontrar uma fase muito longa de equilíbrio que resulta da capacidade da estrela usar as reacções de produção de energia por fusão nuclear do Hidrogénio para produzir a energia que lhe permite compensar o efeito do seu peso.
Assim no seu interior a estrela é apenas um gás extremamente quente tendo uma região central (núcleo) onde produz energia por fusão nuclear enquanto que o resto da estrela tem uma estratificação que é determinada pela forma como se transporta a energia até à superfície onde acaba por ser libertada. É esta energia, na forma de luminosidade que torna as estrelas visíveis à distância.
Como gasta energia a estrela "envelhece", logo todas as estrelas tem um início, uma juventude (intempestiva), uma idade adulta, uma velhice e um fim. Assim ao longo da sua vida o interior da estrela vai mudando (por vezes de uma forma drástica) adaptando-se como pode ao efeito da força inevitável que é o seu peso.

Há consenso sobre como se formou o sistema solar?
Há consenso nos aspectos gerais de como um sistema planetário se forma em torno da estrela jovem. Nesse sentido o cenário que a Astronomia tem para o nosso sistema solar é uma boa descrição de como se pode chegar da nuvem inicial até à estrela com o seu sistema planetário, (como no caso do sol). No entanto há vários aspectos ao longo deste processo bem como as escalas de tempo envolvidas, que ainda não estão completamente esclarecidos. O facto de se estarem a descobrir novos sistemas planetários em outras estrelas tem levantado novas perguntas que obrigam a comunidade a rever a visão existente do processo de formação do nosso próprio sistema, melhorando-o. Desta forma tem sido possível abrir novas vias que ajudam a melhorar a nossa visão de como se pode ter formado o nosso próprio sistema planetário.

Que desafios levanta a detecção de planetas rochosos?
A detecção de planetas rochosos é extremamente difícil devido ao facto de estes serem mais pequenos (em tamanho e em massa). Por esse motivo os métodos que hoje se usam para detectar planetas em torno de outras estrelas detectam predominantemente planetas de maior massa (e gasosos). A forma de contornar esta dificuldade está na construção de instrumentos mais precisos e em encontrar novas assinaturas nas observações que nos permitam identificar a existência de planetas rochosos.
A possibilidade de detectar e estudar planetas rochosos muito semelhantes à nossa Terra abre naturalmente toda uma série de possibilidades científicas que estão a mobilizar a comunidade científica (e o público).

Qual a "consistência" de um planeta gasoso?
Sendo gasoso não podemos falar de uma superfície onde se possa caminhar! Assim num planeta gasoso apenas podemos "voar". Um exemplo no nosso sistema planetário é Júpiter que terá apenas um núcleo sólido. A restante massa deste planeta é gás. Claro que a possibilidade de um planeta gasoso sustentar vida como a que encontramos na Terra é diminuta, daí o interesse da comunidade em tentar encontrar planetas rochosos.

Como recolhe informações a astro-sismologia e a hélio-sismologia?
Na sismologia usamos a propagação de ondas (sismos) para inferir as características da zona que essas ondas atravessam. Esta é a nossa janela para o interior que de outra forma seria inacessível.
Numa estrela - porque é feita de gás - as ondas a observar são ou acústicas (ondas sonoras que se propagam num gás) ou de gravidade (como as ondas no mar). Logo as observações de sismologia estelar consistem na detecção de variações periódicas (por vezes muito pequenas) da temperatura (fotometria) ou da velocidade (espectroscopia) à superfície da estrela. Com as frequências que são medidas, e que dependem da estrutura da estrela onde as ondas se propagam, recorremos às técnicas de inversão para determinar como é o interior da estrela, melhorando desta forma o que sabemos sobre as estrelas e sobre o seu funcionamento.

Qual o envolvimento português no CoRoT?
Um grupo de investigadores portugueses do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) integra esta missão por nomeação da Agência Espacial Europeia (ESA). A função que a equipa portuguesa se propôs fazer para ser aceite foi a de coordenar um grupo de trabalho internacional para o desenvolvimento das ferramentas numéricas que nos permitem modelar a evolução das estrelas e determinar as suas características sísmicas. Estas ferramentas são fundamentais para podermos interpretar os dados que o satélite CoRoT nos está a enviar. O grupo de trabalho (denominado ESTA - ver http://www.astro.up.pt/corot/) iniciou a sua actividade em 2002, contanto com mais de 30 cientistas de vários países europeus.

Biografia
Licenciou-se em Astronomia pela Universidade do Porto em 1989, tem o M.Sc. em Astrofísica pelo Queen Mary & Westfield College da Universidade de Londres (R.U.), obtido em 1990; e obteve o Ph.D. também pelo Queen Mary & Westfield College da Universidade de Londres (R.U.), em 1996 (com equivalência ao grau de Doutor em Astronomia pela Universidade do Porto, em 1996).
É actualmente Professor Associado (2004-) no Departamento de Matemática Aplicada, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Tendo sido anteriormente, no mesmo Departamento, Assistente (1990-1996) e Professor Auxiliar (1996-2004).
Coordena o grupo de investigação em Sismologia Estelar no Centro de Astrofisica, que se integra nas actividades de investigação do grupo de Astrofisica Estelar. Os interesses actuais a nível de investigação centram-se no estudo da estrutura interna e evolução de estrelas do tipo solar usando sismologia estelar. Em particular, no estudo das propriedades da convecção e overshoot convectivo no Sol e estrelas semelhantes, e na determinação sísmica dos parâmetros estelares fundamentais para o estudo da evolução de estrelas desde a pré-sequência principal até estados mais avançados da sua evolução.
Foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Astronomia (de 2000 até 2003), e está envolvido na preparação das missões espaciais, da ESA de sismologia estelar.

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