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#83 | 26 Fevereiro 2007
   
         
 



Vera Assis Fernandes
“A Lua preserva muita história do Sistema Solar que foi apagada da Terra devido ao tectonismo“

 

Quais as características da geologia lunar?
Há dois tipos de terrenos predominantes: as “Terras Altas” (a crosta esbranquiçada quando olhamos para a Lua), muito antigas, da ordem dos 4500 Ma (milhões de anos) [4.5 Ga] e muito craterizadas, e os “Maria” (mares), mais jovens (da ordem dos 3800 Ma a 2800 Ma [3.8 -2.8 Ga] ou ainda mais novos), que correspondem a enormes escoadas de lavas basálticas no interior de grandes crateras de impacto (bacias). Note-se que as rochas terrestres com mais de 3.0 Ga são muito raras, pelo que a Lua nos dá informações preciosas sobre a história geológica do Sistema Solar.
Os maria são quase inexistentes no lado escondido da Lua. Isto deve-se provavelmente ao efeito gravitacional da Terra e à espessura da crosta no lado escondido da Lua ser superior ao lado visível o que fez do lado próximo da Lua a localização preferencial para as erupções vulcânicas.



Tal como na Terra, a estrutura interna da Lua não é uniforme.

  Modelo da estrutura interna da Lua. C. Hamilton
Crosta (0-100 km)
Manto (sólido, 1000 km)
Núcleo (metálico, 680 km, 2 km descentrado)

A crosta, de composição essencialmente anortosítica (o esbranquiçado que vemos da Terra), pode ter espessuras entre cerca de 107 km, a norte da cratera Korolev no lado escondido, até ser quase inexistente sob o Mare Crisium.

  Localização dos Maria
www.lpi.usra.edu

Segue-se o manto que, ao contrário do da Terra, é quase completamente sólido e possivelmente com uma espessura máxima de 1000km, e um possível núcleo metálico, com cerca de 680 km de diâmetro (ainda não se sabe ao certo se há ou não um núcleo e se houver, se é sólido ou líquido).

Com os dados que dispomos, que tipo de vida podemos prever em Marte?

Não sei responder a esta pergunta! Apenas pelo que tenho lido, será uma vida mais semelhante àquela que temos na Terra em locais de condições extremas, como é o caso de desertos quentes, ou no caso dos pólos, algo semelhante àquilo que poderá viver no interior da Antártida, tipo no lago Vostok.

Como se distingue um meteorito de Marte de outro qualquer?
Em geral, para a determinação da proveniência de um meteorito, o mesmo é submetido a vários testes analíticos, como a composição química e isotópica por diferentes laboratórios do Mundo. Uma vez adquiridos os dados, eles são comparados com outros dados já existentes de outros meteoritos, e no caso dos meteoritos lunares, com rochas trazidas pelas missões Apollo e Luna, e um comité decide que tipo de meteorito é.
Um meteorito marciano é normalmente composto pelos minerais piroxena, olivina e maskelinite. A composição isotópica de gases raros nos meteoritos marcianos é semelhante aquela analisada pelas sondas Viking que visitaram a superfície marciana nos anos 70.

Em que consiste o D-CIXS?
O instrumento D-CIXS serviu como uma demonstração de nova tecnologia para detectar raios-x reflectidos pela Lua, a bordo da missão da ESA, SMART-1. Em breve, voará numa missão Indiana Chandryaan-1 (http://www.chandrayaan-1.com), uma versão melhorada deste instrumento, C1XS. O painel frontal deste instrumento consiste em vários detectores de raios-X do tipo "swept charge devices" (SCD's). Para monitorizar o comportamento do Sol, o C1XS é acompanhado por um instrumento (XSM) que estuda a mudança no fluxo de raios-x emitidos pelo Sol. (http://www.sstd.rl.ac.uk/SMART-1/Index.htm)
O principio deste instrumento é: a superfície da Lua é iluminada pelo Sol, e parte do tipo de radiação emitida pelo Sol tem o comprimento de onda raios-X.
Os raios-x uma vez que atingem a superfície lunar são reflectidos consoante a composição química da região a ser observada. Cada elemento emite raio-x com energias únicas o que permite a determinação da composição química.

Como está a decorrer o projecto espacial Indiano?
Bem....e acho fantástico que um pais como a Índia esteja a apostar no espaço não só de um ponto de vista tecnológico mas também científico. Recordemos, que se pensa sempre na Índia como um pais do terceiro-mundo e possivelmente com pouco recursos. Mas a sua população está a empenhar-se em modernizar-se e correr riscos em nome da ciência. Seria bom que Portugal fosse tão atrevido!

Os únicos pontos negros da Antártida, são os meteoritos?
Não, também pode haver rochas terrestres, pois a Antárctica é um continente como outro qualquer, e certos locais de procura de meteoritos são vales ladeados de rochas. Ou podem ser passas que se deixam cair enquanto se percorre nos “skidoos” as vastas extensões de gelo! :--)

O que corre mal na política de atribuição de subsídios para a Ciência em Portugal?
A falta de divulgação é um grande problema em Portugal a todos os níveis, não só a nível governamental mas também dentro das instituições académicas. Deveria haver simplificação de informação (o dizer-se às pessoas para lerem o Diário da República é não só desmoralizante, como nem toda a gente tem acesso fácil ao mesmo, ou nem toda a gente é formada em Direito para poder interpretar correctamente o mesmo). Penso que é uma herança da ditadura o manter a população ignorante, assim como a demonstração de preguiça por parte das entidades responsáveis em se “darem ao trabalho" de simplificarem ou fazerem "check-lists" da informação essencial a ser dada, mas também da documentação necessária para se concorrer a subsídios. Seria óptimo que o MCTES/FCT tivesse a iniciativa de promover workshops onde se poderia aprender como melhor concorrer/prencher os formulários europeus. Ou mesmo ter mais pessoas no GRICES ou FCT a ajudar os interessados a concorrerem aos diferentes programas Europeus. Este tipo de iniciativas existem no Reino Unido....por isso é que possivelmente há mais investigadores lá com fundos Europeus doque em Portugal....é tudo uma questão de estratégia Nacional. Portugal deve ser o Pais (ou um dos países) da UE que concorre menos a fundos devido aos factores acima mencionados.
Penso também que o modo como o MCT/FCT tem decidido dividir os fundos é apenas pó para os olhos e dizerem que estão a dar muitas bolsas. No entanto os valores dados não permitem estabelecer seja o que for em termos laboratoriais. Possivelmente para sociologia e economia sejam valores razoáveis, mas não o são para ciências que necessitam de instrumentação de custo elevado para obterem dados.
Preparo neste momento um documento para envio a diferentes entidades onde falo sobre os problemas, MAS também sugiro alternativas de pensamento.

O que lhe inspira a Lua?
...A sua beleza...e a sua presença na vida da Terra!
Para além de cientificamente, e a partir da Lua (amostras), se poder entender muito dos primórdios da Terra pois a Lua preserva muita história do Sistema Solar que foi apagada da Terra devido ao tectonismo.

Biografia
Doutorada em Geologia Lunar Isotópica pela Universidade de Manchester. Co-Investigadora do instrumento D-CIXS a bordo da sonda SMART-1 da Agência Espacial Europeia que esteve até há pouco tempo a orbitar a Lua. No projecto MAGIC trabalha os dados recolhidos pelo instrumento OMEGA da Mars Express, para determinar composições químicas e mineralógicas da superfície de Marte.
Em finais de 2004 foi a primeira cientista portuguesa a participar numa missão na Antártida, como membro da expedição Antartic Search for Meteorites que recolhe anualmente meteoritos no planalto Antártico para estudo pela comunidade científica internacional.

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