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#81 | 12 Fevereiro 2007
   
         
 



João Rocha
“O prazer do cientista é a viagem”

 

Que novo tipo de interacção da luz com a matéria sugere?
Não se trata realmente de um novo tipo de interacção da luz com a matéria, mas antes de uma forma algo bizarra dessa interacção. Tanto quanto sabemos, nunca antes tinha sido detectada a presença de moléculas quirais (no nosso caso hélices que enrolam para a direita ou para a esquerdas) iluminando sólidos com luz não polarizada (e na ausência de campos magnéticos) e estudando a luz que estes emitem (fotoluminescência). Isto só é possível porque as hélices fazem parte de agregados mais complexos que incluem várias hélices: estes agregados interactuam de forma diferente com a luz o que, indirectamente, testemunha a presença de hélices direitas e esquerdas.

A vossa descoberta do novo material microporoso contraria Pasteur?
Felizmente não (para nós)!

Esta foi uma descoberta da Física ou da Química?

Trata-se de um trabalho na fronteira entre a Química e Física, onde estas divisões clássicas não fazem sentido. Se quisermos ser redutores, podemos dizer que a síntese dos materiais é a mais nobre arte do químico. A caracterização da estrutura dos sólidos (por difracção de raios-X, ressonância magnética nuclear, etc.) é feita por métodos físicos mas que normalmente integram o arsenal dos químicos. As propriedades de fotoluminescência são frequentemente estudadas por físicos, apesar de se conhecerem neste domínio alguns químicos-físicos eminentes.

O que é um zeólito?
Os zeólitos convencionais são edifícios moleculares com estrutura rígida feita de alumínio, silício e oxigénio, possuindo microporosidade, isto é, corredores com uma secção em geral inferior a 1 nm e câmaras onde residem moléculas de água e iões como o sódio e o potássio. Os zeólitos são usados para separar moléculas de dimensões diferentes, funcionando como peneiros moleculares, e para remover iões metálicos presentes em águas (por exemplo Ca2+, Mg2+, no caso dos detergentes) trocando-os por outros mais convenientes (Na+...). São, ainda, utilizados como catalisadores heterogéneos, nomeadamente na indústria petroquímica.

No puzzle do conhecimento científico cabe sempre mais uma peça?
A Ciência é uma aventura e uma constante caça ao tesouro, que se inicia com um indecifrável mapa do tesouro de um velho marinheiro maneta. O mapa leva-nos de mar em mar, de ilha em ilha, de montanha em montanha, até locais recônditos onde outros personagens misteriosos nos oferecem novos mapas, que quase nunca nos revelam o destino final. Mas pelo caminho, descobrimos plantas, animais e gentes exóticas e paisagens deslumbrantes, que damos a conhecer ao Mundo e que às vezes o tornam um lugar melhor para viver. O prazer do cientista é a viagem.

Biografia
Nascido em 1962, é membro do Departamento de Química da Universidade de Aveiro desde 1985 (Assistente Estagiário).
Em 1988 partiu para Inglaterra onde se doutorou em 1990 no Department of Chemistry, Cambridge University, com uma dissertação sobre Ressonância Magnética Nuclear (RMN) do Estado Sólido de caulinite e materiais relacionados, sob a orientação do Prof. Jacek Klinowski. Durante cerca de 1 ano permaneceu neste Departamento e grupo como pós-doutorando, desenvolvendo estudos de RMN de sólidos de materiais zeolíticos. Em meados de 1991 regressou ao Departamento de Química da Universidade de Aveiro, onde tem permanecido. Em 1999 foi promovido a Professor Catedrático de Química Inorgânica.

Presentemente, é Director do Laboratório Associado "Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos".

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