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#80 | 5 Fevereiro 2007
   
         
 



Raquel Soares
“Esta terapia tem como alvo os vasos sanguíneos que ‘alimentam’ o tumor, destruindo-os”

 

Qual a função da progesterona na mulher?
A progesterona é uma hormona sexual esteróide que tem uma relevância enorme durante a fase reprodutiva da vida da mulher. Esta hormona aumenta muito na segunda fase do ciclo menstrual, favorecendo a nidação do embrião no caso de gravidez. No entanto, o papel desta hormona não está completamente estudado, parecendo estar também relacionado com a homeostasia tecidular, controlando/estabilizando o crescimento celular.
No caso de gravidez, a progesterona mantém-se elevada até ao fim da gestação desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento da mesma.

Como pode ser inibida a produção de progesterona?
A progesterona é essencial para o organismo, por isso não deve ser inibida. No entanto, existem já inibidores da acção da progesterona, que são utilizados em certas condições patológicas. Por exemplo, os resultados mais recentes no cancro da mama sugerem que esta hormona pode ter efeitos nefastos na progressão deste tipo de neoplasia. O que o nosso grupo está a estudar é exactamente a via de sinalização que é activada pela progesterona em células de cancro da mama. Bloqueando não a produção de progesterona, mas um dos componentes que se encontra nesta via levará, em princípio, à inibição dos efeitos da hormona nestas células.

Contesta o recurso à quimioterapia no tratamento do cancro da mama?
Não. Por enquanto continua a ser, para além da cirurgia, uma das estratégias terapêuticas mais adequadas. Apesar disso, continuamos à procura de novas formas de tratamento para o cancro. A terapia hormonal adjuvante é uma delas. Outra, que também procuramos neste estudo, é o bloqueio da formação de vasos sanguíneos, i e, a chamada terapia anti-angiogénica.
Esta terapia tem como alvo os vasos sanguíneos que "alimentam" o tumor, destruindo-os. A utilização de várias frentes de combate (atacando quer as células tumorais quer outras células existentes no ambiente onde tumor se encontra) parece ser mais eficaz.

Já estão a ser desenvolvidos fármacos que apoiem a vossa descoberta?
O nosso estudo é ainda muito preliminar. Foi feito só em culturas de células, ou seja, in vitro. Um dos próximos passos será passar a estudar este mecanismo em modelos animais (ratinhos) e só depois se poderá pensar em desenvolver fármacos para utilização clínica.
No entanto, nestes resultados iniciais, descobrimos que um dos factores aumentados pela progesterona é o factor de crescimento derivado das plaquetas (PDGF, platelet-derived growth factor). Existem já fármacos que utilizam esta via do PDGF como alvo. É o caso do Imatinib, um fármaco utilizado noutros tipos de neoplasias. Uma das alunas de mestrado do nosso laboratório está a estudar o efeito deste fármaco em células de carcinoma mamário humano tendo já obtido alguns resultados (preliminares) promissores.

Que cuidados devem ter as mulheres no uso de contraceptivos com progesterona?
Todos os nossos resultados se referem ao cancro. A única coisa que podemos dizer é que a progesterona parece ter um papel importante na progressão de cancro da mama hormono-dependente. Por isso, toda a investigação que permita esclarecer os mecanismos envolvidos nos efeitos desta hormona levará a uma melhor avaliação do risco e, portanto, a um uso mais seguro da mesma, quer nos contraceptivos quer noutras indicações.

Biografia
Licenciada em Bioquímica pela Universidade do Porto.
Mestrado em Oncobiologia pela Faculdade de Medicina da UP.
Doutoramento em Biologia Humana pela Faculdade de Medicina da UP
Professora e investigadora no serviço de Bioquímica da Faculdade de Medicina da UP.

Grande parte da sua actividade científica baseia-se no estudo da angiogénese (formação de vasos sanguíneos), tendo como modelo inicial o cancro.
Actualmente este estudo foi alargado para outro tipo de situações, tais como o papel da angiogénese na regeneração óssea, em doenças oculares e na obesidade. Outro dos assuntos que estuda é a modulação da angiogénese por compostos polifenólicos provenientes da dieta.

Publicou, juntamente com Susana Guerreiro, do Departamento de Bioquímica da Faculdade de Medicina da UP, e Mónica Botelho, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da mesma universidade (IPATIMUP), na edição electrónica da revista norte-americana Journal of Cellular Biochemistry, um estudo no qual concluem que a hormona sexual feminina progesterona parece contribuir para a progressão do cancro da mama por estimular a sua irrigação, através da formação de novos vasos.

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