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# 75 | 01 Janeiro 07
 

Fundador e Director-Geral da empresa Haloris Nanotecnologias, uma empresa focada no desenvolvimento de bio-sensores portáteis e comercialização de nanotecnologia para as ciências da vida.

Nasceu em 1978 e é natural de Carnaxide, Oeiras. É casado e tem um filho.

Em 2001, licenciou-se em Engenharia Física Tecnológica pelo Instituto Superior Técnico. Na mesma instituição prosseguiu os seus estudos de doutoramento em Física com o tema "Biochips magnetoresistivos". O trabalho experimental de doutoramento foi contudo realizado no INESC-Microsistemas e Nanotecnologias e no Centro de Engenharia Química e Biológica do Instituto Superior Técnico. Desde Setembro de 2004 frequenta o curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, encontrando-se actualmente no 2º ano. Frequentou ainda, em 2005, uma pós-graduação em "Empreededorismo e Gestão da Inovação" na Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa. Em 2006 fundou a empresa Haloris Nanotecnologias onde exerce o cargo de director-geral.

É autor ou co-autor de 1 patente, 3 capítulos de livros e cerca de 20 artigos científicos em revistas científicas internacionais e proceedings de conferências. Realizou mais de 10 apresentações científicas e outras tantas a nível de actividade empreendedora.

O seu trabalho científico foi ainda distinguido com diversos prémios a nível nacional e internacional, de salientar o "Prémio 3M à Inovação 2003 - Ciências da Vida", o "Programa Gulbenkian de Estímulo à Investigação 2003 - Nanotecnologias" e o "Prémio Professor Vidigal 2001". Também a nível de empreededorismo foi vencedor ou finalista de diversos concursos de ideias de negócio.

Os seus interesses incluem nanotecnologia, biomedicina, arquitectura e gestão.

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Hugo Ferreira
“As enzimas são as mais pequenas máquinas existentes.”

Que mundo se está a revelar com a nanotecnologia?
Pode dizer-se que a escala do nanómetro é aquela em que opera a vida, no sentido em que os elementos unitários estruturais e funcionais dos sistemas vivos têm dimensões nanométricas. Exemplos destes elementos unitários são as proteínas, os glícidos, os lípidos e os ácido nucleicos que tanto podem ter funções estruturais (membranas, citoesqueleto), de transporte (canais membranares, cadeia de transporte electrónico na fosforilação oxidativa), de reconhecimento e comunicação (receptores de membrana, transmissores), de defesa (anticorpos), de transformação química e estrutural (enzimas) e de codificação (ADN), entre outras. Assim sendo, os sistemas vivos conseguem manipular átomos e conjuntos de átomos dando-lhes novas funcionalidades, que integradas permitem a existência e evolução dos próprios sistemas vivos.
Por conseguinte, a nanotecnologia propriamente dita já existe desde o início da vida, mas apenas nas últimas décadas o Homem começou a conhecer as leis por que se rege e a saber manipular a matéria a esta escala. O potencial deste conhecimento é enorme porque permitirá conceber e fabricar novos materiais e dispositivos com novas e melhoradas funcionalidades. Poder-se-á antever num futuro próximo que todos os produtos de hoje serão melhores e mais funcionais, ao mesmo tempo que aparecerão novos produtos, usando as propriedades únicas da nano-escala.

Já é possível, como Feynman vaticinou, construir dispositivos átomo a átomo?
De momento não é ainda possível construir dispositivos átomo a átomo. Embora entusiastas, como Eric Drexler, estejam a imaginar motores e outras estruturas construídos a partir de átomos isolados, na realidade a mistura ou ligação dos átomos não pode ocorrer de qualquer maneira, estando dependentes das leis da química-física. Assim sendo um átomo de carbono não se pode ligar a um átomo de oxigénio de qualquer modo, será por partilha de um ou dois pares de electrões e não mais e a ligação de um terceiro átomo de hidrogénio ao carbono referido e o arranjo espacial da molécula formada irá depender da ligação de todos os átomos intervenientes. A construção de dispositivos com base no controlo atómico depende pois das leis que regem essas ligações e, embora estas sejam conhecidas desde há muito, a manipulação de átomos não é tecnicamente simples de fazer. Os primeiros passos começam já a ser dados, como por exemplo o curral quântico da IBM ou a assemblagem do nanocarro da Universidade de Rice.

Em que consiste a nova física despoletada pela nanotecnologia?
De maneira geral a física da nanotecnologia é já conhecida da macro-escala (física clássica) e da física atómica (mecânica quântica). O que a nano-escala apresenta de interessante é que as propriedades de matéria e da energia resultam da combinação da física clássica e da física quântica. Por conseguinte, observam-se novos efeitos e propriedades. Em adição, na nano-escala as diversas forças têm diferentes importâncias. Por exemplo, ao passo que no dia-a-dia o efeito da força gravítica dir-se-ia ser o mais importante e o responsável por manter todas as coisas na Terra e não a flutuar no espaço, na nano-escala os corpos são tão pequenos que a força gravítica é praticamente irrelevante. Neste caso, as forças electrostáticas serão as mais importantes e responsáveis pela interacção entre as diferentes moléculas e superfícies. Finalmente, a ideia de trabalhar a esta pequena escala está a levar os cientistas a pensarem de outro modo sobre conceitos antigos, como a natureza do atrito ou sobre a transferência de energia, por exemplo.

O que associa nanotecnologia e proteínas?
As proteínas são biomoléculas e têm dimensões nanométricas. Estas são por isso mesmo produtos nanotecnológicos inventados pela vida. Nos organismos vivos as proteínas e os prótidos em geral têm diversas funções: são estruturais (citoesqueleto); têm funções de transporte de biomoléculas, electrões e iões; estão envolvidas em processos de reconhecimento e comunicação (receptores membranares), e são activas na transformação de outras biomoléculas, quer seja na sua degradação, síntese ou modificação estrutural (enzimas). Neste último caso, pelo facto de actuarem sobre outras moléculas, dir-se-ia que as enzimas são as mais pequenas máquinas existentes. Por exemplo, a ATP-sintase é uma enzima que aproveita a energia disponível num gradiente protónico transmembranar e a transforma em energia química sob a forma de ATP. A enzima é na verdade um motor rotatório com uma eficiência de quase 100%, o que a torna no motor mais pequeno e mais eficiente já alguma vez existente e que está presente nas membranas das mitocôndrias das nossas células.

Quais as perspectivas de evolução comercial de dispositivos apoiados em nanotecnologia?
A comercialização de produtos baseados em nanotecnologia não é recente, mas não tem sido divulgada como tal. Exemplos de produtos deste género incluem cremes solares e cosméticos baseados em nanopartículas e nanocápsulas; zeólitos utilizados na refinação de petróleo, tacos de golfe e raquetes de ténis baseadas em nanotubos de carbono e discos rígidos dos computadores cujos bits são pequenas ilhas magnéticas. A investigação está a prosseguir igualmente em diversas áreas, sendo que os maiores avanços se verificam ao nível dos materiais. Por conseguinte, antes de estar disponível no mercado um dispositivo constituído unicamente por componentes nanométricos, aparecerão diversos produtos baseados nos novos materiais desenvolvidos. Em qualquer caso, espera-se uma revolução nos produtos a todos os níveis: desde os têxteis e polímeros até às energias e tecnologias da informação e comunicação.

 

 

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Editor
António Coxito
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