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# 71 | 04 Dezembro 06
 

Professor Associado na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (Departamento de Física).
Nascido em Lisboa em 1957.
Licenciado em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico.
Doutorado em Física pela Universidade Nova de Lisboa.
Responsável do Grupo de Nanotecnologia da FCT/UNL (criado em 1994).
Investigador no ICEMS/IST.
Investigador Visitante no Centro de Nanotecnologia da Universidade de Rice (EUA).
Exerceu ainda investigação no Hahn-Meitner Institut (Berlim), no Max-Planck Institut (Goetingen), na Universidade de Ulm (Ulm), na Universidade de São Paulo e na Universidade Complutense de Madrid.
Pioneiro no ensino da Nanotecnologia no país.
Membro de dois comités científicos internacionais na área da Física Molecular e da Ciência à Nano-Escala.
Tem mais de uma centena de trabalhos científicos publicados de entre artigos em revistas, livros e actas de congressos internacionais.
Principais interesses científicos: Nanofísica e Nanotecnologia, Física Atómica e Molecular, Física Quântica, Química-Física.

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Rui Lobo
“A indústria não se satisfaz com baixas potências de fornecimento energético.”

Como apologista do Hidrogénio como futuro da energia, quais as potencialidades do deutério?
O deutério é importante na fusão nuclear controlada, a qual estará (com algum optimismo) operacional para fins rentáveis de fornecimento energético, em cerca de vinte anos. Até lá, e dado o frenético desenvolvimento tecnológico globalizado aos quatro cantos do Mundo, que se traduz num consumo desenfreado de combustíveis fósseis, com tudo o que isso acarreta de dependências económicas e políticas, bem como as emissões poluentes que urge reduzir ao abrigo dos protocolos internacionais, devemos interrogar-nos enquanto espécie humana, se pretendemos (ou podemos) frenar os ritmos actuais de consumo.
Paradoxalmente, uma resposta negativa dificilmente poderá ser implementada num Mundo cada vez mais democratizado, já que a história se tem encarregado de demonstrar em diversas épocas, que um acesso generalizado à cultura, complementado com a satisfação das necessidades essenciais, acarretam consigo a proliferação do hedonismo e a concorrência por parte das nações que atingem esse limiar de bem estar social. A opção pela continuidade da satisfação dos consumos crescentes implicará inevitavelmente mudança dos hábitos estabelecidos nas tecnologias de produção energética.
É certo que as tradicionais energias renováveis contribuem para atenuar o problema a nível doméstico e sobretudo rural, mas só poderão representar uma redução drástica nos consumos dos combustíveis se forem acompanhadas pela preconizada terceira vaga de Tofler, a qual muito provavelmente não se concretizará, tendo em conta que as pessoas gostam de viver cada vez mais com a sua privacidade e conforto, mas simultaneamente residir próximo dos grandes centros urbanos. Trata-se de certo modo de uma síndrome a que eu chamo de “calor humano virtual”.
Além disso, a indústria e a electrificação dos transportes não se satisfaz em geral com baixas potências de fornecimento energético. Acresce ainda que as inovadoras centrais de cisão nuclear de 3ª geração dotadas de segurança reforçada, não estarão seguramente operacionais em menos de dez anos, e de qualquer modo não resolverão os problemas de poluição inerentes aos veículos de transporte, e à necessidade de substituição das baterias poluentes usadas em dispositivos portáteis.
É neste contexto que surge o hidrogénio como combustível altamente energético e limpo.

O que são esponjas moleculares?
Tal como uma esponja absorve líquidos em grande quantidade sem que para isso modifique significativamente a sua forma e estrutura, podendo ser ainda repetidamente reutilizada, também existem materiais que permitem absorver hidrogénio em grandes quantidades mantendo as suas propriedades após repetidos ciclos de absorção/desorpção. Sucede que esses materiais realizam tais habilidades absorventes e adsorventes a nível molecular, e daí o termo de “esponjas moleculares”. Com os progressos da Nanotecnologia, essas capacidades a nível molecular têm vindo a ser sucessivamente melhoradas.

Como se controlam colisões atómicas e inelásticas por laser?
A reacção química é a principal razão de a Química existir como ciência autónoma. Ela possibilita que duas substâncias distintas se combinem (reagentes) e dêem origem a uma nova substância (produto) com propriedades distintas dos reagentes. Para os físicos e mesmo para os próprios químicos, tal facto sempre careceu de uma explicação satisfatória, o que só veio a acontecer em finais do século XX com a aplicação de novas técnicas experimentais de Física Molecular e também computacionais, fazendo uso da Mecânica Quântica e das inovadoras técnicas laser e de colisões moleculares, desenvolvidas pelos físicos e químicos-físicos durante esse mesmo século. Tive o prazer de ter desempenhado um papel activo nesses estudos de fronteira entre a Química e a Física, e agora, uma vez compreendido o mecanismo reaccional, o desafio é poder influenciar a colisão entre as espécies reagentes através de luz laser de comprimento de onda adequado, por forma a modificar as percentagens relativas do tipo de produtos que se podem formar.
Os progressos realizados são muito encorajadores, podendo assim a ciência à Nano-escala contribuir de forma decisiva para a mudança nos processos de produção da indústria química e de materiais.

As designações utilizadas na nano-tecnologia pressupõem um Universo muito diferente daquele com o qual convivemos diariamente. Até que ponto isso é verdade?
Para mim, que “convivo” há mais de vinte anos com moléculas em gases, a pressões idênticas às do Espaço, o Universo das Nanociências e Nanotecnologia é tão habitual, como certamente é o Espaço para um astronauta. Mas convenhamos que tal não acontece com a maioria das pessoas, e a melhor imagem que se pode ter do Nanomundo será porventura imaginar “auto-estradas e scuts para vírus e proteínas, ainda não sujeitas a portagem”. À medida que formos sendo cada vez mais intervenientes nesta revolução da Nanotecnologia, as “imagens entrarão inexoravelmente pelos nossos olhos dentro”, seja através da televisão seja pela Internet. É só uma questão de tempo. A divulgação científica e o jornalismo de qualidade podem desempenhar neste ponto um excelente papel.

Que aplicações poderá ter a botija de Hidrogénio por si desenvolvida?
A resposta a esta sua pergunta exige um esclarecimento prévio, que se impõe de modo a evitar más interpretações. Na realidade, o meu grupo não desenvolve botijas para hidrogénio mas usa-as sim como reservatórios de materiais que se comportam como “esponjas de hidrogénio”. Esses materiais é que são alvo de estudo e desenvolvimento no meu grupo de Nanotecnologia. O uso de hidrogénio como combustível completamente amigo do ambiente (note-se que o produto da combustão é tão somente água!), passa pelo seu prévio armazenamento, para que possa ser usado nas inovadoras pilhas de combustível. O seu armazenamento em reservatórios a alta pressão representa um potencial perigo de explosão. Ninguém pretende andar com uma bomba no porta-bagagens do seu veículo ou no seu telemóvel. A solução passa por usar as tais esponjas moleculares que podem armazenar grandes quantidades de hidrogénio e simultaneamente eliminar os riscos de explosão. No entanto, para que se consiga guardar o hidrogénio em quantidades rentáveis, é ainda necessário continuar a desenvolver materiais com crescente capacidade absorvente, o que se espera ser realizável num prazo de cinco anos, recorrendo aos actuais progressos da Nanotecnologia.

 

 

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Alda Cardoso Ambrósio

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
Design
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