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# 67 | 06 Novembro 06
 

Engenheiro.
Mestrado em Climatologia.
Responsável pelo blog Mitos Climáticos.

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Rui G. Moura
“Good news are not news.”

O que é uma teoria científica?
Desde os meus tempos de estudante que nunca gostei de definições do género «a Física é a ciência que estuda os fenómenos físicos». Isto antes mesmo de se ter uma noção exacta do que são fenómenos físicos. Para definir o que é uma teoria científica talvez devêssemos começar por discutir se a teoria começa quando se nos colocam problemas para resolver ou se ela termina com mais problemas. O que se coloca primeiro é o problema ou é a teoria? Em todo o caso podemos definir uma «teoria científica» como uma solução provisória para explicar determinado(s) fenómeno(s) da Natureza. Provisória porque se admite que ela venha a ser refutada e substituída por outra que explique melhor e faça melhores previsões. Assim, uma teoria para ser científica tem de admitir a possibilidade da realização de um ensaio – nos tempos mais próximos – que a possa refutar. Mas, mesmo o facto de a teoria resistir a esse ensaio não quer dizer que ela seja uma solução definitiva.

É pretensioso dizermos que o Homem pode influenciar o clima do Planeta?
É não só pretensioso como errado. Desde Arrhenius que se coloca esta questão. O clima (o que é o clima?) do nosso planeta é influenciado por um grande número de fenómenos, nem todos ainda suficientemente bem explicados. Depende inclusive de parâmetros astronómicos. Isto é, também depende dos planetas nossos vizinhos. Uns fenómenos têm maior influência do que outros. O homem, como ser da Natureza, não tem capacidade para ter uma influência determinante no clima. Confunde-se clima com a poluição. Aqui sim, o homem tem uma influência enorme. Mas no clima não.

Resumidamente, o que diz a Teoria dos Anticiclones Móveis Polares (AMP)?
Aqui está umas das perguntas que para se responder completamente teríamos de escrever um tratado de meteorologia e climatologia. Resumindo, a teoria dos AMP explica a circulação geral da atmosfera (mais propriamente no estrato inferior da troposfera) que é determinante – mas não única – para a dinâmica do tempo e do clima. Esta teoria explica que os AMP são os principais responsáveis tanto nas altas como nas baixas latitudes pelas variações da pressão atmosférica, pelas direcções e velocidades do vento, pela temperatura, pela humidade, pela nebulosidade e pela pluviosidade. Em resumo, os AMP são responsáveis pela variação perpétua do tempo e pela variação do clima. Essa responsabilidade vem desde tempos imemoriais até aos nossos dias. São os AMP que iniciam as glaciações e as terminam. Nos períodos interglaciários, como o que vivemos, responsabilizam-se pela irregularidade do tempo e do clima que conhece curtos períodos de estabilidade conhecidos como óptimos climáticos. Nos nossos dias eles estão a preparar a próxima glaciação que pode ocorrer mais depressa do que se imagina. De facto, as mal designadas “alterações climáticas” não são mais do que as premissas da primeira fase de uma glaciação. Temos de guardar as devidas proporções pois a escala temporal do clima não se conforma com a duração da vida dos humanos.

Será possível incorporar num modelo matemático todos os dados de previsão climatológica?
Actualmente não. Não há nenhum modelo matemático-informático que tenha incorporado a teoria dos AMP. E, como se viu, eles são determinantes para o clima. O que torna aliciante para a previsão climática é que os AMP são imprevisíveis nas suas trajectórias. Neste momento, os climatologistas da Universidade de Lyon estão a estudar a estatística das trajectórias dos AMP boreais. Com esse estudo poder-se-á calcular o integral da potência desenvolvida no movimento de um AMP desde que nasce até a um determinado ponto. Se for possível integrar todos os dados para uma previsão climatológica poupar-se-ão muitas vidas humanas. Em todo o caso, com as observações dos satélites meteorológicas, desde que nasce um AMP já se poderia prever com alguma precisão as consequências dele durante a sua trajectória. Mas o drama é que, infelizmente, os serviços meteorológicos – não só os nacionais – ainda não conseguem fazer essa avaliação por não dominarem a teoria dos AMP. Por exemplo, se o centro de Miami especializado em furacões estivesse apto a incorporar os AMP nos seus modelos (que se baseiam nas médias anuais) muitas vidas humanas teriam já sido poupadas. De facto, um furacão procura seguir a trajectória onde encontra as pressões mais baixas. Ora, isso acontece nas faces frontais dos AMP. E em Miami desconhecem os AMP!

Quais os responsáveis por esta desinformação: os “climatocratas” com os seus modelos informáticos, ou os media com as suas novelas sensacionalistas?
Os dois. Os climatocratas-modeladores porque se convencem e querem convencer que dominam a “máquina do tempo”. Os media porque adoram angustiar a opinião pública. A angústia é o produto que mais vende quando inscrito no papel que se compra cheio de “bad news” (good news are not news). E, as “bad news” propagam-se a uma velocidade próxima da velocidade da luz no vazio.

Qual o efeito que o bater de asas de uma borboleta sobre os céus de Hong-Kong pode ter sobre o clima de Lisboa?
Nenhum. Essa ideia está associada à teoria do caos. E a circulação atmosférica é tudo menos caótica. Os AMP são constituídos por massas de ar frio absolutamente bem organizadas. O caos só existe nas explicações de quem não sabe explicar o que se passa nas camadas baixas da troposfera.

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Editor
António Coxito
Produção
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