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# 64 | 16 Outubro 06
 

Doutorada em Biologia Pesqueira pelo Norwegian College of Fisheries (NFH) da Universidade de Tromsoe, Noruega, realizou a sua Licenciatura em Biologia – Ramo Científico, na Faculdade de Ciências (FCL) da Universidade de Lisboa, Portugal.
Professora da Universidade do Algarve e membro do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR), tendo, no entanto, anteriormente realizado investigação no antigo Instituto Nacional de Investigação das Pescas (INIP/IPIMAR), bem como exercido funções de Agente Científico na Direcção Geral das Pescas, DG XIV, da Comissão Europeia, em Bruxelas, onde era responsável por várias pastas (“Pesca Fantasma”; “Pesca acessória e rejeições das pescas”; “Impacto das Pescas no ambiente”; “Pesca da baleia”; “Pesca desportiva na Europa”). Foi nesta última instituição que teve consciência da importância do impacto das pescas no ambiente, nomeadamente, dos problemas da pesca acessória e rejeições das pescas.
Responsável por vários projectos de investigação internacionais e nacionais, é autora de vários artigos científicos sobre a biologia e pesca dos cefalópodes (polvo, choco e lula – animais com que tem uma relação especial), e sobre o problema das rejeições das pescas.

Actualmente, coordena um projecto sobre melhoria das artes de pesca artesanal ao polvo, e outro sobre a biodiversidade nas pescas. Deste último, espera-se a publicação dum livro em 2007.

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Teresa Cerveira Borges
“Deveríamos repensar seriamente na utilização de certas artes de pesca.”

Como tem evoluído a arte de pesca ao longo dos tempos?
Artes de pesca há muitas, com formas e materiais muito variados, podendo estas ser mais ou menos específicas. Na generalidade, as artes de pesca têm evoluído ao longo dos tempos, evolução essa dependente do tipo de arte de pesca. Se pensarmos que a primeira arte de pesca poderá ter sido a nossa mão, vemos que evoluíram bastante, principalmente devido ao facto de ao longo dos tempos termos aprendido mais e mais sobre o comportamento dos animais aquáticos, conhecimento esse que levou a um melhoramento das artes de pesca.

Como se podem classificar as artes de pesca?
Várias são as classificações das artes de pesca que podem ser mais ou menos complexas. No entanto, há uma classificação muito utilizada pela sua simplicidade e exactidão. Essa classificação é a separação das artes de pesca em “artes passivas” – o peixe tem que se dirigir à arte; e “artes activas” – a arte vai ao peixe. Exemplo de artes passivas, são as armadilhas, redes de emalhar, linha e anzol; de artes activas, o arrasto de fundo. Esta classificação nada tem a ver com “movimento”! O uso da linha e anzol num barco em movimento (“pesca ao corrico”) continua a ser uma arte de pesca passiva, pois é o peixe que tem de se dirigir à arte de pesca, neste caso linha e anzol.

Se 70 por cento das espécies capturadas não servem para consumo, como se poderia reduzir esta percentagem?
Muito se tem feito para diminuir a chamada “captura acessória”, razão da grande percentagem de rejeição nas pescas. A nível técnico, o uso de dispositivos para redução dessas capturas (BRDs – By-catch Reducing Devices), como os paneis de malha quadrada e as grelhas, têm sido adoptados por vários países com bastante sucesso pelos pescadores. Estudos realizados em Portugal pelo IPIMAR demonstraram resultados encorajadores quanto à exclusão de espécies não comerciais capturadas em grande quantidade. No entanto, há ainda bastante a fazer para ultrapassar a preocupação e desconfiança dos pescadores. Há, no entanto, necessidade de nos consciencializarmos que para além de melhorar a selectividade das artes de pesca deveríamos repensar seriamente na utilização de certas artes de pesca. É o caso do arrasto de fundo que por mais que se diga que a rede é selectiva, não deixa de trazer muito do que lhe “aparece à frente”, enfiando tudo dentro dum “saco” numa amálgama que, por vezes, até as próprias espécies comerciais não podem ser aproveitadas por estarem tão danificadas. É preciso lembrar que um arrastão lança a sua rede de pesca para o fundo onde fica a arrastar entre 2 a 12 horas, conforme o tipo de arrastão (arrastão de peixe ou arrastão de crustáceos, respectivamente). Imaginem como ficam os primeiros peixes a serem capturados! Claro que a substituição (ou mesmo desaparecimento, como por vezes se fala) do arrasto tem consequências socioeconómicas que não podemos ignorar, e por isso, não pode ser feito “sobre o joelho”.

Qual a importância das espécies de peixe não comerciais no ecossistema marinho?
Atenção, quando falamos de espécies falamos de todos os grupos de animais marinhos. Não só de peixes! Na realidade a importância das espécies não comerciais varia, mas na sua generalidade todas têm uma posição mais ou menos importante num determinado nível da cadeira trófica de uma ou várias outras espécies. A abundância de certas espécies comerciais pode estar a diminuir devido a outras espécies importantes para a sua alimentação estarem a desaparecer. Para além disso, não podemos esquecer a importância da preservação da biodiversidade. Que isto não seja uma frase feita e fútil, mas sim um acto real e de consciência.

Quais os objectivos do programa “Ciência, Educação e Arqueologia Marinha: À Descoberta do Fundo do Mar”?
O programa Luso-Americano SEMAPP (Science, Education and Marine Archaeology Program for Portugal) tem como objectivos principais não só a investigação marinha nas áreas da biologia e arqueologia, como na difusão do interesse pela investigação científica nas camadas mais jovens (estudantes de vários níveis do ensino – secundário e universitário) através da preocupação constante na participação desses jovens nas campanhas de mar. Apesar das suas diferenças, estes grupos de investigação têm a oportunidade de utilizar equipamentos que por si sós provavelmente não conseguiriam, devido a questões financeiras (problema cada vez maior nos nossos dias). Na área da biologia o objectivo principal é um maior conhecimento dos nossos fundos, desde a biodiversidade a aspectos da ecologia e comportamento das espécies.

Que vantagens para a investigação tem trazido o recurso ao mini-submarino Delta?
Como deve calcular é muito dispendioso o recurso a este tipo de equipamento e, por isso, tínhamos objectivos muito concretos (mais focados para a biologia) para a campanha SEMAPP de 2004, em que utilizámos o “Delta”, objectivos esses atingidos. Este tipo de equipamento (mini-submarinos e submersíveis, como os ROVs) têm a grande vantagem de nos possibilitar observar directamente e ao vivo, locais que dificilmente lá se pode chegar. Aquilo que observámos foi extremamente enriquecedor e provavelmente levaríamos muito mais tempo a analisar e concluir sem o “Delta”. Até mesmo para o público em geral, particularmente para os pescadores, foi-nos possível mostrar imagens da pobreza dos nossos fundos. É verdade já todos sabemos que os nossos fundos do mar estão pobres, mas ver é sem dúvida outra coisa!

Qual o impacto da pesca do arrasto nas espécies marinhas?
Uma palavra: ARRASADOR.

Anteriores entrevistas:
Freitas-Magalhães
Valentí Massana
Alberto Proença
Joaquim Santos
Rogério Silva

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
Design
Luís Silva
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