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# 59 | 11 Setembro 06
 

Director do Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab), da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS), da Universidade Fernando Pessoa (UFP), no Porto.
Doutorado em Psicologia, foi o único cientista português a participar na 18th Annual Meeting of the Human Behavior and Evolution Society que decorreu, de 7 a 11 de Junho, na University of Pennsylvania, em Philadelphya (EUA), onde apresentou um estudo científico, único e inédito, sobre a expressividade do sorriso em delinquentes, e já foi convidado a participar na 12ª que se realizará no próximo ano em Genebra (Suiça). Em 2003, foi distinguido pela TSF como um dos “Portugueses Excelentíssimos” no campo da ciência em Portugal. É o único psicólogo português que estuda as funções e repercussões do sorriso no desenvolvimento das emoções e das relações interpessoais e já estudou o efeito do sorriso na percepção psicológica da afectividade, dos delinquentes, dos estereótipos, e nas diferenças de género, idade, da cor da pele e de gémeos e o reconhecimento das emoções básicas através da expressão facial em diferentes grupos etários (bebés, crianças, jovens, adultos e idosos), em deficientes mentais, em depressivos, em delinquentes e em toxicodependentes. É autor da F-M Portuguese Face Database (F-MPF) e do único livro em Portugal sobre a problemática, genericamente intitulado “A Psicologia do Sorriso Humano”, publicado pelas Edições Universidade Fernando Pessoa (EUFP). No final do ano, será lançado o seu novo livro que leva o título “Psicologia das Emoções: O Fascínio do Rosto Humano”.


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Freitas-Magalhães
“O sorriso – essa curva simples que tudo pode endireitar.”

O que pretende a neurociência social?
A literatura científica é ampla na identificação e caracterização das estruturas neuronais. Por isso, neste momento, o foco primordial é estudar a funcionalidade da complexidade neuronal ao nível da partilha social e quais os estímulos externos moderadores. Deste conhecimento resultará, certamente, melhor e global leitura sobre os processos da actividade mental. Neste particular, a psicobiologia e a psicofisiologia estão em franco desenvolvimento. Compreender o indivíduo como uma unidade social – fruto de inúmeras trocas de informação cerebral com o ambiente externo – é um dos desígnios da neurociência social. O estudo da expressão facial da emoção é um exemplo concreto.

Em que fase nos encontramos na sistematização dos processos da mente?
O mais importante é compreender a funcionalidade desses processos, isto é, para que servem, qual a sua utilidade em contexto social. Nesse sentido, o estudo das emoções surge como paradigmático pois permite verificar o estado actual de desenvolvimento. O reconhecimento das emoções implica o normal funcionamento dos processos da mente em conjugação com toda a estrutura cerebral. Todo o processo de reconhecimento, e posterior utilização, das emoções é, sem dúvida, complexo e, ao mesmo tempo, decisivo para a sobrevivência do indivíduo. Como seria o indivíduo sem emoções? Há muito, ainda, para descobrir sobre a função das emoções. Por isso, o estudo dos processos da mente vai continuar por muitos anos…

Das seis emoções básicas, apenas uma, a alegria, se refere ao prazer. Tal deve-se a exprimirmos de maneira mais diversificada emoções negativas ou é uma questão de sistematização e nomenclatura?
Os estudos apontam para uma exibição mais frequente das emoções negativas do que das positivas e tal se deve a motivos de ordem filo e ontogenética, não se trata de sistematização e nomenclatura.

O que é o sorriso?
O rosto está no topo da lista da autoconsciência humana e o sorriso é uma fonte poderosa de recompensas interpessoais. É o sorriso – essa curva simples que tudo pode endireitar – que dá movimento e dinâmica ao rosto. O sorriso é considerado uma das primeiras expressões da criança, a par da facilidade de alimentação, profundidade do sono e aceitação da ausência da mãe. O fenómeno do sorriso não é apenas identificado pela retracção das comissuras labiais para trás e para cima. O sorriso é definido em dois eixos fundamentais: o eixo muscular e o eixo da funcionalidade. Quanto ao primeiro, para a exibição do sorriso no palco do rosto, é imprescindível o exercício concreto dos músculos que circulam a boca do indivíduo, designadamente os orbiculares oris e os zigomaticus. Quanto ao segundo, e essa a minha preocupação científica corrente, refere-se à função do fenómeno no desenvolvimento do psiquismo humano no contexto das interacções sociais. O sorriso contribui, decisivamente, para o desenvolvimento afectivo e cognitivo do indivíduo como sinal de meta-comunicação que é.

Quais são os factores condicionantes do sorriso? Por exemplo, o género e a idade têm influência no tipo de sorriso?
É evidente que sim. Embora a morfologia do sorriso permaneça a mesma durante o ciclo vital, a sua exibição vai alterar-se em função da idade, do género e da cultura ou contexto social. Os moderadores que referiu assumem papel decisivo na compreensão conotativa do sorriso. Os estudos que fiz não deixam a menor dúvida – a mulher sorriso mais vezes e com maior intensidade do que o homem. A mulher faz uso do sorriso, não porque o fenómeno lhe seja inerente enquanto pertença do género feminino, mas porque ela sente necessidade de, em contextos de tensão, por exemplo, se mostrar agradável e prestável, evitando preocupar os outros. O sorriso é o mecanismo ideal que a mulher encontrou para dissimular os seus momentos de fragilidade psicológica. O homem sorri menos e com menor intensidade porque desenvolve a ideia que ao exibir inúmeras vezes o sorriso está a exercitar um comportamento feminino. O sorriso do homem é mais seleccionado em função do contexto e da finalidade, é um sorriso que traduz o desejo de dominação.

Como é que isso se traduz em termos de expressão facial?
O sorriso aparece precocemente no rosto da criança. Aliás, o sorriso é inato. É possível, hoje, através da ecografia a 3 dimensões, observar o bebé a sorrir ainda no útero da mãe. Qual a função deste sorriso? Será apenas uma reacção dos neurotransmissores? Esta é uma linha de investigação por explorar. O sorriso aparece muito cedo no rosto da criança, acentuando-se na vida reprodutiva e rareando na velhice. Ou seja, o sorriso, como tudo na vida, nasce, desenvolve-se e morre. E o rosto é o palco ideal – porque é a área do corpo que não se esconde, pelo menos em grande parte do mundo – para se verificar isso mesmo, ou seja, há uma diminuição da intensidade e da frequência do sorriso ao longo da vida.

Quais são os objectivos do seu estudo e qual a sua importância a nível científico?
A importância é precoce na vida de qualquer indivíduo. O sorriso é um dos principais organizadores do psiquismo humano e uma fonte segura de recompensas pessoais e interpessoais. Desde muito cedo que aprendemos que, pelo sorriso, conseguimos estabelecer o mecanismo da vinculação e, daí, tirar o benefício dessa aprendizagem. Mais tarde, o sorriso deixa o seu carácter involuntário e passa a assumir a configuração voluntária, induzida e de dissimulação. Nesta fase, aprendemos a dissimular as nossas emoções com a exibição do sorriso. O sorriso é explicado como catalisador entre a tensão e a descontracção, sendo o seu valor biológico inquestionável ao nível do despertar do afecto e da compreensão cognitiva. Usualmente, o sorriso está associado a sentimentos positivos como a felicidade, o prazer, o divertimento ou a amizade. Porém, expressa também ironia, tristeza, insatisfação, desgosto e embaraço. O estudo “A psicofisiologia do sorriso humano: construção e efeito emocionais em portugueses” é mais uma linha de investigação no espectro do estudo científico sobre o fenómeno que iniciei há 20 anos.

Que fantasmas acordarão com a sua investigação?
Não faço investigação para “acordar fantasmas” – faço investigação por pleno prazer pessoal e pela utilidade que tal tarefa pode significar para as pessoas. Entendo a ciência como um exercício de partilha. O sorriso, por exemplo, encerra, em si, todo o enigma que atrai a investigação. E ainda porque, considerado um dos organizadores do psiquismo humano, é usado quase todos os dias e, frequentemente, não sabemos a sua função. O sorriso envelhece e denuncia-nos os sentidos e as coordenadas. Actualmente, a minha linha de investigação centra-se na utilidade das emoções na vida dos indivíduos.

Anteriores entrevistas:
Pedro Granja
José Xavier
Tito Trindade
Irene Fonseca
Norberto Pires

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
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