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# 57 | 28 Agosto 06
 


Nasceu em Lisboa, a 10 de Julho de 1956. Licenciou-se em Matemática na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, na década de 70. Doutorou-se em 1985 na Universidade do Minnesota (EUA) e nos dois anos seguintes tirou o pós-doutoramento em Paris. Em 1997 e 1998 trabalhou no Instituto Max Planck em Leipzig, na Alemanha.

Em 1997 foi-lhe atribuído o galardão de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada, pelo Presidente da República, Jorge Sampaio.

Em Setembro de 2003 foi agraciada com a primeira cátedra “Mellon College of Science Professorship of Mathemathics”, criada nesse ano com o objectivo de distinguir os membros seniores dessa Universidade de Pittsburg, nos Estados Unidos.

Integrou o painel de avaliação das universidades e dos centros de investigação na área da matemática e o painel de avaliação de projectos em matemática financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

É actualmente uma destacada investigadora na área das Equações às Derivadas Parciais e Cálculo de Variações e uma das mais internacionalmente citadas matemáticas portuguesas. Trabalha desde 1987 na Carnegie Mellon, Universidade de Pittsburg e actualmente dirige o Center for Nonlinear Analysis da mesma instituição.


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Irene Fonseca
“A interdisciplinaridade tem que permear a educação dos novos investigadores.”

Quais os novos desafios da Matemática?
A informática, a matemática e as ciências físicas e sociais são os pilares dos grandes avanços científicos e tecnológicos dos últimos anos. Desde a concepção à análise do comportamento de novos materiais ditos inteligentes, desde a modelização de estruturas extremamente finas utilizadas em medicina ao estudo de imagens por visão computorizada, desde a biomedicina à energia e ao ambiente, desde as comunicações às redes e segurança, a matemática é o grande motor das grandes descobertas. Aqui cito Edward David, ex-presidente de Exxon RD: "Too few people recognize that the high technology so celebrated today is essentially a mathematical technology".
O desafio que se põe, não à matemática mas aos matemáticos, é o de saberem aproveitar esta riqueza de motivações físicas que não só ligam a matemática às outras ciências e engenharias, mas certamente catapultam a disciplina para novas frentes de investigação aonde as teorias existentes são insuficientes para tratar os novos problemas científicos e tecnológicos. Isto é, as aplicações dão origem à nova ciência!

A matemática é hoje uma ciência inter-disciplinar?
A matemática teve sempre uma característica inter-disciplinar: é impossível obterem-se resultados nas ciências e engenharias sem uma estrutura matemática. Daqui o facto da matemática se encontrar "entre" (inter) disciplinas. Quanto às aplicações, desde a teoria dos números na criptografia passando pelas equações diferenciais no estudo da turbulência e, consequentemente, no desenho das aeronaves, a matemática teve e continua a ter uma ubiquidade indiscutível entre as disciplinas científicas e as engenharias. Não é um fenómeno actual. O que é um fenómeno novo é a compreensão que a interdisciplinaridade tem que permear a educação e o treino dos novos investigadores.

Como é que os motores industriais e tecnológicos podem alimentar o desenvolvimento da Matemática?
Como frisei acima, uma das grandes riquezas do envolvimento dos matemáticos com biólogos, engenheiros e outros cientistas, é o serem expostos a problemas que escapam às teorias matemáticas tradicionais e estimulam a criação de novas teorias. Exemplos recentes podem ser encontrados no tratamento de cristais líquidos, materiais com propriedades magnéticas, segmentação de imagem, finanças, sistemas biológicos, etc.

Que ferramentas inovadoras devem ser implementadas no estudo da Matemática?
Não há áreas novas a desenvolver, mas há áreas em que é preciso investir a nível nacional, e uma delas é a computação _ esta é a ponte entre a matemática e as outras ciências e as engenharias. Talvez fosse de considerar a criação dum laboratório nacional de estudos graduados e pós-graduados em computação e matemática industrial.
De forma à matemática poder responder aos desafios actuais que se lhe põem, é necessário criar uma nova casta de cientistas e engenheiros com capacidade para ligar perspectivas diversas e trabalhar através de fronteiras disciplinares, com um sentido desenvolvido de aprendizagem contínua de forma a permanecerem cientificamente e tecnologicamente astutos. Este é um treino interdisciplinar, multi-institucional e mesmo multi-nacional, já que hoje em dia o espectro de especialização é tão vasto que raramente pode ser encontrado numa instituição única.
Claro que isto requer que os educadores sejam entusiasmados pelo ensino como são pela investigação que desenvolvem, que tragam para a sala de aula a paixão pela matemática que fazem na calma dos seus gabinetes, e sobretudo que o sistema de ensino seja flexível e permeável à inovação. Requer ainda que o sistema de treino dos novos investigadores não se reduza a produzir "clones" dos professores que já existem no mundo universitário, com pouca preparação para iniciarem carreiras não académicas.

Qual o estado da Ciência em Portugal, visto de uma Universidade Americana?
Não me pronuncio sobre a ciência em geral, mas limito-me a falar da perspectiva exterior que a matemática em Portugal tem hoje em dia. Há um enorme potencial, e faz-se matemática de excelente qualidade. Com o número de doutoramentos obtidos no estrangeiro nas últimas duas décadas, aumentou-se de forma extraordinária a capacidade intelectual dos novos investigadores que regressaram ao País com redes de colaboração no estrangeiro que se reflectem na internacionalização do trabalho feito no País.
No entanto, há a percepção que esta riqueza não é devidamente aproveitada. Este é um problema complicadíssimo, para o qual não vejo solução fácil a curto prazo. A matemática desenvolvida em Portugal poderá dificilmente atingir níveis internacionais de excelência se as instituições não capitalizarem e investirem de forma estratégica num número pequeno de áreas (o que não preclude que indivíduos escolham especializações noutras áreas) _ somos um País pequeno, não podemos ser bons em tudo!
Mas isto exige planeamento e recrutamento estratégicos, e o desenvolvimento duma visão a curto e médio prazos, o que é essencialmente impossível atendendo ao regime vigente de recrutamento e promoções, e à dependência quase total da investigação vis a vis o ensino.

Que fascínio experimenta quando se debruça sobre problemas como os de Poincaré, Navier-Stokes, Hodge ou Riemann?
O fascínio é o fascínio da descoberta, e o fascínio de ensinar a fazer ciência aos que vêm a seguir a nós, e sobretudo é a consciência de se pertencer ao grupo privilegiado dos que recebem um salário por fazerem aquilo que fariam de qualquer forma!

Anteriores entrevistas:
Maria Gomes-Solecki
Cármen Arnau Muro
Pedro Granja
José Xavier
Tito Trindade

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
Design
Luís Silva
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