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# 56 | 21 Agosto 06
 


Professor Associado no Departamento de Química da Universidade de Aveiro (UA). Licenciou-se em Química pela Universidade de Coimbra e concluiu o Mestrado em Engenharia de Materiais pela UA. Doutorou-se no Imperial College de Londres, onde realizou estudos pioneiros na síntese de nanocristais de semicondutores utilizando precursores moleculares. Após a conclusão do doutoramento, em 1996, regressou à UA onde implementou actividades de investigação em Nanoquímica que têm contado com a dedicação de muitos jovens investigadores. Para além da Nanoquímica, tem desenvolvido investigação em outras temáticas, destacando-se a Química dos pigmentos inorgânicos e a síntese de materiais híbridos. Os resultados da sua actividade científica encontram-se publicados em diversas revistas internacionais com processo de arbitragem. Uma parte significativa da sua actividade académica é dedicada à divulgação e integração pedagógica da Nanotecnologia em programas curriculares pré-doutoramento.


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Tito Trindade
“Nanotecnologia implica mais pequeno e melhor desempenho.”

A tecnologia por si implementada é visível?
Na última década tenho realizado investigação na área das nanociências com especial incidência na síntese química e caracterização de nanoestruturas. Mais recentemente estas actividades de investigação têm sido dirigidas no sentido de desenvolver nanoestruturas que possam ser aplicadas como novos materiais funcionais. Tendo presente a internacionalização da investigação científica, em particular na área das nanotecnologias, considero que estes procedimentos são uma contribuição válida, embora modesta, para uma tecnologia que gradualmente se vai tornando mais visível aos olhos do cidadão. Refiro-me concretamente ao aparecimento de produtos de base nanotecnológica, desenvolvidos a partir da investigação realizada por uma numerosa comunidade científica, à qual tenho orgulho em pertencer.

Como se manipulam as nanoestruturas?
As nanoestruturas que tenho investigado mais intensamente são partículas com dimensões tipicamente entre 1-100 nm, daí a designação de nanopartículas. Estas podem ser manipuladas individualmente recorrendo a métodos físicos, como por exemplo microscópios de sonda que permitem explorar o mundo à escala molecular. No entanto, existe um objectivo bem mais ambicioso que consiste na manipulação por via química de sistemas macroscópicos constituídos por milhares e milhares de nanopartículas. Para atingir este objectivo, investigam-se em vários laboratórios do mundo, estratégias baseadas em processos de auto-montagem (self-assembly) de nano-objectos. O termo LEGO-Química tem sido muito utilizado neste contexto, no sentido de estabelecer uma analogia entre a nanoquímica e a manipulação de blocos LEGO. Estes apresentam determinadas características que os tornam indicados para construções específicas. No caso dos nano-objectos, pretende-se conferir determinadas funções químicas que permitam processos de reconhecimento químico e auto-organização em estruturas hierarquicamente mais complexas. A Natureza utiliza procedimentos análogos de tal modo eficientes que permitem que haja vida!

Qual a aplicação prática da computação quântica na nanotecnologia?
A computação quântica irá ter um impacto muito grande na sociedade em geral e não apenas ao nível da nanotecnologia. Não sendo um especialista neste domínio, limito-me a antecipar uma forma inovadora de lidar com informação, com ferramentas muito mais poderosas do que as actuais e cujas potencialidades não deixarão de nos surpreender.

Que especialidades podem tirar partido da nanotecnologia?
Nas nanotecnologias e nanociências confluem conhecimentos de diversas especialidades científicas. É uma área naturalmente multi-disciplinar e operacionalmente inter-disciplinar. Dificilmente se desenvolvem produtos de base nanotecnológica, internacionalmente competitivos, ignorando o cruzamento de diferentes especialidades científicas. Nanotecnologia implica mais pequeno e melhor desempenho, pelo que são vários os campos de actividade humana nos quais a nanotecnologia está a ter uma contribuição marcante. Para além da computação, referida anteriormente, saliento as aplicações em medicina, preservação do ambiente, sustentabilidade energética e, obviamente, na opto-electrónica em geral. Mas também áreas tradicionais, como por exemplo os têxteis, o papel, a cerâmica e as tintas, podem aproveitar a revolução nanotecnológica no sentido de fabricar produtos inovadores que incorporem nanomateriais.

A esta escala, qual a diferença entre nanoquímica e nanofísica?
As complementaridades são seguramente mais importantes do que as diferenças entre ciências irmãs, neste caso a Química e a Física. Por vezes a separação entre disciplinas científicas surge por limitação humana e não tanto pelo conhecimento científico propriamente dito, dado que a verdade científica será a mesma independentemente da perspectiva de análise. Mas sem querer fugir à questão, a Nanoquímica distingue-se da Física de sistemas de baixa dimensionalidade sobretudo na compreensão das propriedades químicas e de reactividade de nanoestruturas. A Nanoquímica investiga a síntese de nanoestruturas no sentido de desenvolver novos materiais, recorrendo a métodos tipicamente químicos, frequentemente designados por métodos bottom-up. Ao nível da preparação de materiais, os métodos físicos são normalmente designados por top-down. Nas minhas aulas, costumo distinguir estas duas abordagens na preparação de nanomateriais recorrendo a uma analogia, para a qual me socorro de um postal do Egipto que ilustra a Esfinge (construção top-down) como a guardiã das pirâmides de Gisé (construções bottom-up). Na Esfinge, o detalhe foi obtido esculpindo uma rocha gigantesca, enquanto as grandes pirâmides foram construídas bloco a bloco... O conjunto evoca a capacidade de realização humana e os seus mistérios. Era assim na Antiguidade e continua a sê-lo ainda hoje, na era da Nanotecnologia!

Anteriores entrevistas:
Sérgio Rebelo
Maria Gomes-Solecki
Cármen Arnau Muro
Pedro Granja
José Xavier

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
Design
Luís Silva
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