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# 52 | 24 Julho 06
 

Nasceu na Madeira em 1967. A sua área de investigação são as doenças infecciosas, desenvolvimento de vacinas e imuno-diagnósticos.
Actualmente é investigadora de Microbiologia e Imunologia no New York Medical College e Directora de Investigação da Biopeptides, Corp., uma companhia de bio-tecnologia da qual é sócia.
O principal interesse do seu trabalho reside no estudo da Borrelia burgdorferi, causadora da doença Lyme, muito comum nos EUA.

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Maria Gomes-Solecki
“Seres humanos para serem produtivos têm que ser sujeitos a um nível saudável de stress.”

Que vacina gostaria mais de desenvolver?
Contra a malária, porque é uma doença perniciosa que põe em risco cerca de 2 biliões e mata cerca de 3 milhões de pessoas por ano. A devastação humana causada por esta doença conduz a alterações económicas e sociais profundas que têm o potencial de destruir um povo. O parasita que causa esta doença é altamente interessante do ponto de vista científico puro. A tuberculose também é uma doença infecciosa emergente.

O que a levou da medicina veterinária às doenças infecciosas?
Tentei fazer clínica veterinária mas a rotina e a falta de meios não me agradaram muito. Por falta de meios, eu quero dizer que na altura que eu tentei esta profissão prevalecia a atitude portuguesa de “não se gostar de pagar serviços” de modo que eram mais frustrantes do que aliciantes os dias na clínica. Entretanto, estava envolvida num projecto de doenças infecciosas aliciante e fui continuando de projecto em projecto sempre nas doenças infecciosas só com uma breve paragem em bioquímica para aprender algumas técnicas de biologia molecular.

O que entende por “hard core science”?
“Ciência profissionalizada”. Na altura que eu saí de Portugal a ciência biomédica que se fazia era tipo amador, muito pouco profissional, quase infantil, sem seminários semanais ou mesmo anuais na nossa (ou noutra, tanto quanto eu sabia) área de estudo. Basicamente, cientistas produzem mais e melhor se forem constantemente “challenged” por pessoas estranhas ao seu próprio ambiente. É uma questão de competição saudável e mobilização de pessoas e ideias entre universidades e mesmo departamentos dentro da mesma universidade.

Há que correr riscos para ter sucesso?
Absolutamente. Eu sou de opinião pessoal que sem risco não há recompensa, há só a segurança de um quotidiano sem ambições. Sei bem que numa sociedade como a nossa, que é completamente avessa à palavra “risco” isto pareça um bocado drástico, mas o que é facto é que os seres humanos não foram programados biologicamente/psicologicamente para “se sentarem debaixo da bananeira protectora do estado e esperar só comer bananas (seguras!) para o resto da vida”. Seres humanos para serem produtivos e inovadores têm que ser sujeitos a um nível saudável de stress, normalmente induzido por situações de mais ou menos risco.

Qual a percentagem de inspiração e de transpiração no seu trabalho?
Eu diria que é 50/50. Sem inspiração não existe inovação (pelo menos no meu caso) e sem inovação fico sem as novas tecnologias que movem ambos os laboratórios, o da universidade e o da companhia. A transpiração vem principalmente do stress de competir continuamente por financiamento que mantenha a companhia funcional até termos um produto no mercado. Existe também o “thrill” e a responsabilidade de continuar a financiar os salários das várias pessoas que trabalham para mim.

Que sinergias podem ser criadas entre as Universidades e as grandes companhias farmacêuticas?
Grandes companhias farmacêuticas têm a disponibilidade financeira para investir em projectos a fundo perdido (o que os americanos chamam de “Grants”) que financiem ciência fundamental e aplicada fora das portas da companhia, ou seja na universidade. Para a universidade, a vantagem será a de ter acesso a fundos para investigação que, no mínimo, põe a uso o equipamento altamente sofisticado e caríssimo que muitas vezes anda “às moscas” em muitos departamentos das universidades portuguesas. Estes arranjos financeiros podem trazer alguns problemas de conflitos de interesse mas desde que todas as transacções sejam feitas com transparência não há razão para as temer, e é uma via frequentemente usada pelos americanos e ingleses sobretudo para financiar estudos clínicos que, como que num à parte, eu devo sublinhar, é um tipo de investigação que simplesmente não existe no nosso pais.

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Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
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Luís Silva
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