CASO NÃO CONSIGA VISUALIZAR CORRECTAMENTE ESTA NEWSLETTER CLIQUE AQUI
 
# 49 | 03 Julho 06
 

Nasceu em Bilbau em 1954. Entre 1980 e 1987 trabalhou no Centro Astronómico Hispano Alemão – Max Planck Institut für Astronomie, e colaborou desde aquela altura com o Observatório de Paris – Meudon. Em 1986 doutorou-se em Ciências Físicas pela Universidade do País Basco (UPB) com uma tese sobre a dinâmica da atmosfera de Saturno e integrou em 1987 a Escola Superior de Engenheiros de Bilbau da UPB, onde é actualmente catedrático de Física Aplicada e dirige uma equipa de investigação que trabalha no estudo dos planetas.

Director da equipa da UPB que participa no projecto Vénus Express a qual, desde Abril, se encontra na atmosfera venusiana onde realiza experiências científicas.

Além disto, é membro do Conselho Assessor para a Exploração do Sistema Solar da ESA. Destacam-se entre os seus 120 artigos de investigação aqueles publicados nas prestigiadas revistas “Nature” (onde foi capa duas vezes) e “Science”.

email
site

Agustín Sánches Lavega
“A humanidade investe muito mais em comida para cães do que em investigação espacial.”

Em que consiste o seu trabalho na Vénus Express?
O nosso grupo tem estado há muito tempo a trabalhar na investigação das atmosferas planetárias. A de Vénus, sendo muito densa, apresenta características muito particulares e decidimos analisá-la em profundidade. A Vénus Express dispõe de uma câmara, chamada Virtis, que capta imagens de alta resolução mediante um sistema espectral. Graças a este instrumento podemos estudar, tanto a dinâmica atmosférica, isto é, tentar medir os ventos e as características das nuvens, como o fenómeno da super-rotação de Vénus, porque ainda que o planeta gire lentamente, a sua atmosfera roda a grande velocidade.

Que podemos aprender com estes estudos?
Poderemos saber porquê Vénus, um planeta com uma massa e tamanho similares aos da Terra, é totalmente diferente em relação à sua atmosfera e evolução. Para além disso, sabemos que ao estudar a meteorologia de outros planetas poderemos compreender melhor os fenómenos meteorológicos do nosso próprio planeta. Actualmente, fazer previsões meteorológicas para além de uma semana é muito complicado e por isso os modelos que se utilizam hoje têm muitas limitações. Vamos tentar aplicar o modelo de previsão terrestre em Vénus e isso vai ajudar-nos a aperfeiçoá-lo. Basicamente, o que fazemos é tentar utilizar as atmosferas de outros planetas como laboratórios naturais para estudar a meteorologia terrestre.

Quais são as principais diferenças entre Vénus e a Terra?
Não se sabe exactamente o motivo mas Vénus evoluiu de forma totalmente diferente à da Terra, apesar dos dois serem planetas de características físicas similares. A grande diferença é que o nosso planeta tem uma atmosfera basicamente de oxigénio, produzida pela actividade biológica; enquanto que Vénus tem uma atmosfera de hidróxido de carbono que produz um efeito estufa exagerado com temperaturas à volta dos 450 graus na superfície e pressões como as que sofre a Terra a mil metros de profundidade nos oceanos. As nuvens venusianas são também totalmente diferentes das terrestres, já que são compostas de ácido sulfúrico concentrado. Para além disso, a sua atmosfera demora apenas quatro dias a dar a volta ao planeta, enquanto este demora 243 dias a dar uma volta sobre si próprio. A origem destas diferenças é o que a Vénus Express vai tentar perceber.

Existe alguma possibilidade de existir vida em Vénus?
A verdade é que o mais provável é que nunca tenha existido vida em Vénus. A única zona onde há uma possibilidade remota de que exista algum micro organismo seria na alta atmosfera, naquelas capas próximas das nuvens, onde a temperatura e a pressão estão mais perto das da Terra. Mas é certo que devemos tentar encontrar algo, já que considero que não devemos fechar os olhos ante a procura do mais imprevisível, ainda que seja mais provável encontrar vida em Marte do que em Vénus.

O que diria aos que pensam que se investe demasiado dinheiro na investigação espacial quando há outros problemas na Terra?
Há que analisar bem em que se gasta o dinheiro já que, por exemplo, a humanidade investe muito mais em comida para cães do que em investigação espacial. Devemos esclarecer que recebemos muitas coisas do espaço. As pessoas não sabem que a maioria dos avanços tecnológicos que se aplicam na vida quotidiana provêm de estudos desenvolvidos fora da Terra. Além disso, oferece conhecimento sobre a origem da humanidade, analisando os motivos pelos quais podemos esquecer que no futuro o homem ver-se-á obrigado a abandonar o nosso planeta devido aos recursos limitados. Hoje pode parecer ficção científica mas é certo que o homem irá encontrar recursos no espaço no futuro. Um último aspecto concreto é que a Agencia Espacial Europeia fomenta fortemente a colaboração entre países, rompe barreiras e ajuda à consolidação de um projecto europeu comum. É evidente que o espaço nos une.

entrevista de Jordi Bascuñana

Anteriores entrevistas:
Luís Rocha
Rogelio Alonso
Miguel Constância
Manuel Teixeira
Octávio Mateus

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
Design
Luís Silva
Subscrições/cancelamento
Esta mensagem está de acordo com a legislação Europeia sobre o envio de mensagens comerciais: qualquer mensagem deverá estar claramente identificada com os dados do emissor e deverá proporcionar ao receptor a hipótese de ser removido da lista. Para ser removido da nossa lista, basta que nos responda a esta mensagem colocando a palavra "Remover" no assunto. (Directiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu; Relatório A5-270/2001 do Parlamento Europeu)