Octávio Mateus
“Os dinossauros extinguiram-se
devido a drásticas alterações ambientais.”
O que é que torna Portugal único
do ponto de vista paleontológico?
Portugal é único devido à riqueza de
fósseis, sobretudo do Jurássico Superior. Destacam-se
os esqueletos e pegadas de dinossauros, mas também
a diversidade e características dos afloramentos geológicos
que permitem uma visão abrangente de todo o paleoecossistema.
Algumas localidades, como a Lourinhã e Guimarota, estão
entre as mais importantes do Jurássico Superior na
Europa. Durante o tempo dos dinossauros havia uma enorme bacia,
a Bacia Lusitânica, que permitiu a junção
de características óptimas para a vida dos dinossauros
(água e vegetação), e da sua conservação
(muitos esqueletos eram rapidamente enterrados num sedimento
que favorecia a fossilização). Por fim, hoje
afloram à superfície os sedimentos com a idade
certa para encontrarmos esses esqueletos.
Como se explica a semelhança
entre a fauna de dinossauros de Portugal e a da Formação
Morrison na América do Norte?
Houve uma forte comunicação entre a América
do Norte e Portugal até ao Jurássico Superior,
o que permitiu a dispersão e partilha da fauna entre
estas duas áreas. Além disso, as formações
geológicas da Lourinhã e Morrison são
da mesma idade geológica e tinham ecossistemas muito
semelhantes: clima semi-árido, mas com vegetação
rica e água doce abundante. Assim, existem géneros
de dinossauros em comum entre Portugal e a Formação
de Morrison, tais como o Allosaurus, Ceratosaurus, Torvosaurus
e Apatosaurus.
Porque é que os fósseis
de dinossauros encontrados no continente europeu são
sub-valorizados em relação àqueles encontrados
noutras partes do globo?
Não sei se serão sub-valorizados. Há
dinossauros europeus que são tão ou mais valorizados
que outros, e certamente mais que os de países pobres.
Acho que a valorização tem a haver com a importância
dos achados e com a possibilidade de os museus divulgarem
o seu espólio. Muitos dinossauros europeus têm
tido divulgação internacional. Um bom exemplo
recente foi a divulgação do novo dinossauro
anão, o Europasaurus, descrito por mim e por colegas
alemães na revista Nature e que teve uma divulgação
global.
Que vantagens lhe trouxe o estudo da
biologia para as suas investigações paleontológicas?
A minha formação em biologia permitiu dedicar-me
mais ao estudo dos dinossauros como restos de organismos biológicos
e compreender a sua morfologia, ecologia, biologia e evolução.
Tanto quanto sei, eu sou o primeiro biólogo português
a fazer o doutoramento em paleontologia, área que era
tradicionalmente do domínio quase exclusivo dos geólogos.
Qual a influência da sua família
e do local aonde cresceu nas suas escolhas científicas?
A influência da minha família foi decisiva para
as minhas escolhas e sublinharam uma vocação
que me é própria. Eu tive a sorte de nascer
e crescer no “ninho de dinossauros” e de ter tomado
decisões relativas que julgo acertadas relativamente
à minha formação e carreira. O facto
de estar ligado à Lourinhã foi decisivo para
que estudasse dinossauros.
Qual a sua opinião sobre
o que ditou o fim dos dinossauros?
Claramente os dinossauros extinguiram-se devido a drásticas
alterações ambientais. Mas a questão
que todos colocamos e eu ainda não sei responder é
o que causou essas alterações. A teoria do asteróide
parece plausível mas ainda levanta muitas questões.
Possivelmente ocorreram diferentes factores e eventos que
juntos contribuíram para a extinção,
mas que também estão a baralhar as pistas para
uma melhor compreensão do que realmente aconteceu.
Muito em breve, eu irei estudar, no terreno, esse período
geológico relativo à extinção
no final do Cretácico e que levou ao fim dos dinossauros
não-avianos, por isso espero em breve poder ter uma
opinião mais concreta. |