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# 42 | 15 Maio 06
 

Paleontólogo do Museu Nacional de História Natural.
Campo de investigação: evolução e locomoção dos dinossáurios Saurópodes (dinossáurios quadrúpedes e herbívoros de cauda e pescoço comprido).
Participou em Marrocos no estudo do dinossáurio mais antigo do mundo, o Tazoudasaurus.

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Luís Azevedo Rodrigues
“A dimensão do tempo geológico é algo absolutamente não palpável.”

O que podemos inferir sobre o comportamento e locomoção dos dinossáurios a partir das suas pistas?
O meu trabalho envolve duas componentes: o estudo do material osteológico (ossos) e icnológico (pegadas) de dinossáurios.
Ao nível da osteolgia procuro compreender, através da recolha e análise de dados 3D, a evolução da locomoção dos maiores dinossáurios que existiram - os saurópodes (dinossáurios quadrúpedes, herbívoros, de cauda e pescoços compridos). Este estudo envolve a compreensão das alterações morfológicas (de forma) ocorridas no esqueleto destes animais, pois só assim poderemos compreender as alterações na locomoção deste grupo ao longo da sua história evolutiva.
A recolha desses dados 3D é feita com equipamento específico e tendo que me deslocar a vários Museus de História Natural, pois é impossível "mandar vir", por exemplo, um fémur (osso da perna) com 2,5m de comprimento! A última deslocação foi a Marraquexe onde, no Museu de História Natural, foi estudado o saurópode mais antigo do mundo - o Tazoudasaurus. Estão previstas próximas deslocações à China e o regresso ao Estados Unidos da América.
Para além deste trabalho laboratorial existe também a componente de trabalho de campo/escavação, para o qual já estive em Espanha e duas vezes consecutivas em várias províncias da Patagónia.
No que diz respeito às pegadas, o trabalho de equipa desenvolvido pelo Museu Nacional de História Natural (MNHN) da Universidade de Lisboa compreende a inventariação e estudo da totalidade do registo icnológico português.
As pegadas de dinossáurio dão-nos informações valiosíssimas relativamente a vários aspectos paleobiológicos dos dinossáurios - tipo de locomoção (velocidade, etc.), comportamento (se se deslocavam isoladamente ou em grupo), patologias (se o animal estava ferido podemos sabê-lo pelo carácter irregular da passada, por ex.).
Ao contrário dos ossos que nos dão mais informação quanto à classificação de um determinado animal, as pegadas revelam mais sobre a paleobiologia.

Qual a descendência dos dinossáurios?

As actuais teorias evolutivas apontam como sendo as aves os actuais descendentes dos dinossáurios. Existem um enorme conjunto de evidências (anatómicas, moleculares, etc) que permitem que os paleontólogos tenham estabelecido esse grau de parentesco. Hoje em dia conhecem-se muito bem quase todos os "elos perdidos" da linha evolutiva que conduziu de um grupo de dinossáurios carnívoros (os terópodes) às modernas aves. É uma história evolutiva fascinante com o aparecimento de uma das "novidades" evolutivas mais fascinantes da natureza - o voo.

Para avaliar a idade de um dinossáurio é utilizado o Carbono 14?
No caso da Paleontologia de dinossáurios o método de datação pelo Carbono 14 não é utilizado, pois o seu espectro temporal de alcance não atinge as rochas e os fósseis com que habitualmente trabalhamos (mais de 65 milhões de anos).
Na paleontologia de dinossáurios são usados os métodos de datação utilizados por uma das áreas da Geologia - a Estratigrafia. Se um determinado dinossáurio é encontrado numa rocha deve ter a idade dessa rocha; assim os palentólogos utilizam as datações das rochas onde os fósseis foram encontrados. Essas datações radiométricas são várias e utilizam diversas metodologias.

Quando falamos de dinossáurios, tendemos a meter no mesmo saco várias espécies muito diferentes?
O grupo designado por Dinosauria compreende, hoje em dia, mais de um milhar de espécies diferentes. Nesse grupo existem animais muito diferentes quer ao nível do tamanho (Compsognathus com 1m de comprimento e alguns saurópodes com mais de 40m), pesos (dos 5kg às mais de 100 toneladas), modo de vida (carnívoros, herbívoros, omnívoros; uns eram solitários, outros, como alguns saurópodes e ornitópodes, viviam em enormes manadas), tipo de locomoção (bípedes, quadrúpedes, etc.), idade (desde os 220 milhões de anos até aos 65).

A abrangência temporal com que trabalha influencia a sua visão do dia-a-dia?
Obviamente que sim.
Lido todos os dias com materiais fossilizados enormes e escalas temporais gigantescas, mas procuro não esquecer, para não me amedrontar, sempre a minha escala humana.
Uma das realidades que os paleontólogos compreendem mas que acho que nunca vão ser capazes de sentir é a dimensão do tempo geológico. É algo absolutamente não "palpável".
Também é das questões que mais dificilmente somos capazes de verdadeiramente fazer "passar" para o grande público, quer nas escolas, quer nos artigos de divulgação que escrevo para alguns jornais.
A dimensão do tempo pode dar-nos uma maior relatividade em algumas questões do dia-a-dia bem como fazer-nos pensar no papel que o Homem deve ter perante a Natureza; nós só cá "estamos" há uma pequena fracção de tempo...

Anteriores entrevistas:
Maria Dornelas
Rui Loja Fernandes
Bruno Sousa
Francisco Santos
Tiago Fleming Outeiro

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
Design
Luís Silva
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