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# 40 | 01 Maio 06
 

Nasceu em Lisboa em 1981 onde concluiu Física Teórica em 2004, efectuando estudos pós-graduados sobre evolução da cooperação sob a orientação do Professor Jorge M. Pacheco da Universidade de Lisboa, até lhe ter sido oferecida uma bolsa Marie Curie para efectuar o seu doutoramento no instituto interdisciplinar IRIDIA, em Bruxelas, onde realiza presentemente o seu trabalho de investigação.

Publicou um artigo na PNAS no qual propõe uma mudança de paradigma na abordagem da interacção entre indivíduos.

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Francisco Santos
“A tentação de atraiçoar o próximo representa uma inevitabilidade.”

Em que estágio nos encontramos na sistematização dos processos de interacção social?
A sistematização das interacções entre indivíduos de uma sociedade e os resultados globais que emergem dessas interacções é algo que permanece como um problema em aberto para diversas áreas da ciência, como a economia, antropologia, ciências políticas, matemática, biologia, só para nomear algumas. Recentemente, a teoria de redes mostrou-nos como caracterizar quantitativamente as interacções sociais e o modo como são estabelecidas o que, juntamente com a teoria de jogos, poderá produzir uma via para acelerar a nossa compreensão dos fenómenos sociais. Tal como em Cosmologia, onde o estudo da origem do universo tem como base apenas parte da história do mesmo, a teoria de redes mantém como um dos seus grandes desafios a compreensão dos mecanismos elementares que estão na génese das redes que hoje observamos.

A tentação de atraiçoar o próximo pode estimular a cooperação entre as sociedades?
Do ponto de vista evolutivo, cada acção é determinada pelo interesse próprio do indivíduo e não pelo bem comum que tal acção pode determinar. Embora a sociedade possa tentar desenhar um mecanismo que favoreça a segunda, tendo a primeira como premissa, a tentação de atraiçoar o próximo não levará à cooperação, mas representa de certa forma uma inevitabilidade. Cada indivíduo poderá escolher a via da traição se isso lhe proporciona alguma espécie de vantagem, e a tentação de escolher essa via será proporcional a esse benefício; por outro lado, a existência de traição induz os outros a organizarem-se por forma a evitá-la. A tentação de atraiçoar e o medo de ser atraiçoado são parâmetros fundamentais na sistematização dos conflitos sociais.

Como é que a informação que os indivíduos dispõem influencia a sua acção, segundo a teoria dos jogos?
A informação que cada indivíduo dispõe e a consequente utilização no processo de decisão é determinante para o seu comportamento. A informação sobre acções passadas dos parceiros sociais aumenta a complexidade das estratégias disponíveis, podendo originar diversos mecanismos de reciprocidade (directa ou indirecta) ou mecanismos de punição que, segundo a teoria de jogos evolutiva, levam à emergência de comportamentos altruístas. Este resultado surge mesmo quando a reputação social de cada indivíduo, e a norma social da comunidade de inserção, estão circunscritas apenas ao passado mais recente. Por outro lado, considerando organismos simples onde as capacidades cognitivas e de memória são limitadas ou inexistentes, as teorias evolutivas tradicionais levam, de forma geral, apenas à sobrevivência de estratégias egoístas, excepto quando as redes de contactos são heterogéneas ou auto-organizadas. O resultado convencional tem suscitado uma divergência entre a teoria e alguns resultados experimentais, onde o egoísmo e as acções anti-sociais não são predominantes.

Que analogia existe entre a análise das proteínas e da internet?
Globalmente, ambas se constituem como uma gigantesca rede de interacções. A análise destas redes revelou recentemente que as duas partilham propriedades e padrões de interacção semelhantes. Embora não seja de excluir que a génese destas redes tenha motivações e mecanismos distintos, redes de proteínas, internet ou, por exemplo, redes de colaborações entre cientistas ou actores de cinema, entre muitas outras, têm em comum uma estrutura onde uma minoria possui um enorme número de ligações, enquanto que a maioria apenas interactua com um reduzido número de elementos. A descoberta deste tipo de estrutura, em redes reais, cria um novo desafio tendo em vista a compreensão dos sistemas dinâmicos que ocorrem nessas redes, entre os quais a evolução da cooperação. Usando estes padrões de interacção, e contrariamente aos resultados tradicionais, as estratégias altruístas tornam-se dominantes, constituindo-se estas estruturas como um factor determinante para a emergência da cooperação entre indivíduos.

Qual a probabilidade de um prisioneiro ler esta entrevista?
Enorme! Interpretando o “prisioneiro” como um indivíduo sob um determinado dilema, eu diria que “todos somos prisioneiros”...

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Fernando Simões
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Rui Loja Fernandes
Bruno Sousa

 
Editor
António Coxito
Produção
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