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# 39 | 24 Abril 06
 

Engenheiro de Operações de Satélite da VEGA Gmbh. Nascido em 74, crescido a assistir à Galáctica, ao Espaço 1999, ao Star Wars e aos voos do Shuttle, e pioneiro na prática do astro-modelismo em Portugal, licencia-se em Engenharia Aeroespacial no IST no primeiro curso leccionado entre 92 e 97. Depois de experiência profissional em sistemas navais e serviços de comunicações móveis, chega à Agência Espacial Europeia para dar suporte ao teste e integração do simulador da VEX, por contrato com a Deimos Engenharia. A experiência no simulador foi importante para se tornar membro da equipa de controlo de voo da sonda em Julho de 2005. Actualmente combina a responsabilidade na operação dos sistemas eléctrico e térmico da sonda com as actividades de planeamento e supervisionamento das operações de rotina, e gestão de operações de um dos instrumentos.

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Bruno Sousa
“5, 4, 3, 2, 1......Descolagem!”

Como se constrói um foguete de cartão?
A receita divide-se em 3 fases muito resumidas em seguida (recomendo a pesquisa e leitura de mais informação sobre o astro-modelismo ou ”rocketry” e sobre os cuidados a ter com a actividade e manuseamento de cargas de pólvora e projécteis):



Primeiro planeia-se: Um micro-foguete deverá ter um corpo cilíndrico rígido de 20 a 30 cm de altura e com cerca de 2 cm de diâmetro. Precisa de 3 ou 4 aletas na base para estabilizar o voo. Precisa de um motor (cargas de pólvora que podem ser adquiridas em lojas de aeromodelismo) para propulsão e de um pára-quedas para aterrar. Precisa de um cone ou ogiva no topo para furar o ar que deverá ter pelo menos duas vezes o diâmetro do corpo. Há que contar com 2 cm extra para entrar à justa dentro do corpo do foguete sem ficar demasiado apertado, porque a ogiva será ejectada pelo motor, para expulsar o pára-quedas.
Segundo constrói-se: Para o corpo usar um tubo de cartão (por exemplo rolo de cozinha). Pode-se fazer também um tubo com papel de cavalinho A4 e cola de madeira usando um cabo de vassoura como molde. Para fazer a ogiva, é preciso esculpir a forma desejada a partir de um bastão de madeira de balsa com o mesmo diâmetro do tubo. O pára-quedas pode ser um círculo recortado de um saco de plástico com 20 centímetros de diâmetro e com 4 fios unidos num nó. Deste nó deverá partir um fio que ficará preso ao tubo e outro à base da ogiva para não se perder as partes do foguete. As aletas devem ser todas iguais e recortadas de uma folha de balsa com 3 mm de espessura, e coladas na base, alinhadas ao eixo longitudinal do foguete.
Terceiro lança-se: A rampa de lançamento poderá ser uma vareta de metal com 0,5 cm de espessura e 50 cm de comprimento, espetada no chão, a 10 graus da vertical na direcção para onde vai o vento, em zona descampada e sem pessoas. Coloca-se um pedaço de algodão entre o topo da carga e o pára-quedas para evitar que este se queime com a ejecção. Dobra-se o pára-quedas e coloca-se dentro do tubo e fecha-se o foguete com a ogiva. Cola-se 2 cm de palhinha ao eixo longitudinal do foguete para colocá-lo na rampa. Instala-se a carga pela base garantindo que está bem fixa. Usa-se um cabo de 25 metros para fornecer electricidade ao rastilho de ignição da carga. O cabo ligará a uma caixa com chave de segurança e interruptor que por sua vez ligará a uma bateria de automóvel. Quando a zona do voo estiver totalmente desimpedida e todos os participantes do lançamento bem para trás da trajectória do foguete, faz-se a contagem decrescente em voz bem alta: 5, 4, 3, 2, 1...... Descolagem!

Que proveitos para a Humanidade poderão trazer as informações recolhidas em Vénus?
Eu vejo os proveitos para Humanidade, essencialmente, em 3 áreas: Em primeiro lugar para o conhecimento e a ciência. Esta sonda é um instrumento científico muito poderoso; com uma capacidade de análise e precisão muito superior aos instrumentos anteriormente enviados para Vénus; com uma enorme capacidade de armazenamento de dados e de transmissão para terra. A sonda recolherá parâmetros científicos de forma mais sistemática, que permitirão estudar, aperfeiçoar e validar modelos físico-químicos do planeta e seu ambiente com maior rigor. Os dados recolhidos estarão ao dispor de toda a comunidade científica que poderá desenvolver investigação. As comparações com os modelos terrestres ajudar-nos-ão a compreender melhor a evolução do nosso próprio planeta em termos de dinâmica atmosférica, clima, efeito de estufa, etc.
Em segundo para a tecnologia, a indústria e a economia europeia: Mobilizando empresas em variadíssimas áreas a desenvolver tecnologia avançada, aplicações e serviços; Mobilizando indústrias paralelas a transferir aplicações para outras áreas económicas; Criando emprego qualificado.
E em terceiro para o público em geral: Estimulando o seu interesse pelo espaço como fronteira inexplorada (convertendo ficção em realidade); o interesse pelo conhecimento das origens e comportamento do universo em geral e do nosso sistema solar em particular; e pela compreensão do nosso papel e dimensão nesta gigantesca e maravilhosa máquina que é o universo.

Qual será o seu trabalho, durante os próximos dois anos, na Vénus Express (VEX)?
O meu trabalho com a VEX assentará em… 3 vertentes essenciais:
Por um lado como responsável térmico e eléctrico: consistirá em desenhar mecanismos para monitorizar a saúde dos sistemas pelos quais sou responsável, por exemplo: Monitorizar a degradação dos painéis solares e da capacidade das baterias, monitorizar os ciclos acumulados dos aquecedores e termóstatos e analisar falhas, e redesenhar o modo de operação da sonda em caso de avaria nestes componentes.
Por outro, como responsável de instrumento: terei a meu cargo manter e validar os procedimentos para operar o instrumento SPICAV (um espectrómetro ultravioleta e infra-vermelho), e verificar que as actividades científicas não violam os constrangimentos de operação deste instrumento.
Por outro ainda, como planeador e supervisor de rotina: caberá a todos os membros da equipa revezarem-se nas tarefas de validar o plano de observações científicas em função da disponibilidade de recursos da nave, isto é, não excedendo os limites de capacidade de produção eléctrica, os limites de armazenamento de dados na memória e os limites de descarga dos dados para Terra; e produzir a pilha de comandos que permite à sonda executar o plano. E por fim supervisionar a interacção com a sonda e a integridade das operações. Tenho também a meu cargo gerir o desenvolvimento, actualização e manutenção do software de planeamento e produção de comandos.

Como se antecipam os sete minutos que levam as comunicações da Terra para a VEX no que se refere à sua manobrabilidade?
O chamado atraso de propagação do sinal é antecipado planeando toda a actividade da sonda com muita antecedência, o que é feito, curiosamente, em 3 passos fundamentais:
O primeiro é o ciclo de planeamento de longo prazo: Determinam-se as oportunidades de manutenção da sonda, de utilização da antena em terra e a largura de banda disponível para 6 meses de operações, e fornece-se esta informação ao Centro de Planeamento de Ciência (VSOC no ESTEC, Holanda) que elabora um plano de observações para cada 4 semanas, em função dos pedidos dos cientistas.
O segundo é o ciclo de planeamento a médio prazo: Dois meses antes da actividade, e em conjunto com a equipa de Dinâmica de Voo, valida-se o plano de observações e manobras contra os constrangimentos da sonda e do ambiente em redor.
Por fim o terceiro é o ciclo de curto prazo: O plano de observações é detalhado ao pormenor, para cada semana, e torna-se a validar tudo uma semana antes, integrando as últimas determinações de órbita para maior precisão e geram-se os comandos. Estes são então carregados para a memória de bordo, diariamente, e com 2 dias de antecedência e a VEX, que é muito autónoma executa-os chegando a altura certa. Os 7 minutos (que podem ser 15 quando Vénus se encontra no lado oposto do sol) só são realmente um problema quando necessitamos de operar em tempo-real, o que só acontece, normalmente, em casos de emergência.

Sonha um dia ser Captain Kirk?



Bom, a resposta a esta pergunta tem, invariavelmente, 3 partes… sim, sim e sim... Um dia gostaria de gerir uma equipa de controlo de voo, de preferência numa missão interplanetária. É um trabalho aliciante que implica coordenar todas as vertentes de operacionalidade da missão: Os sistemas de monitorização, os sistemas de planeamento, os sistemas de comunicação, o manual de operações de voo, a gestão dos recursos e o treino da equipa, e culminando na responsabilidade de tomar decisões críticas em operações críticas. Mas não desdenharia também, usando a experiência de operações, um dia vir a desenhar e conceber novas missões. E num futuro um pouco mais distante enveredar pelo ensino e transmitir essa experiência aos que se seguem.

Anteriores entrevistas:
Ricardo Azevedo
Fernando Simões
Nuno Sardinha Monteiro
Maria Dornelas
Rui Loja Fernandes

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
Design
Luís Silva
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