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# 37| 10 Abril 06
 

Bióloga, a trabalhar no ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies and School of Marine Biology and Aquaculture, James Cook University, Townsville, Austrália.

Publicou um artigo na revista Nature em que questiona a teoria neutra da biodiversidade a partir do estudo desenvolvido sobre um banco de coral no Indo-Pacífico.

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Maria Dornelas
“Defender a biodiversidade é como preservar as pirâmides do Egipto.”


Aonde tropeça a teoria neutra da biodiversidade?
A teoria neutra é demasiado constante no espaço e no tempo. Tem em conta variação ao acaso em nascimentos, mortes e migrações, mas por outro lado não tem em conta o efeito da variação das condições ambientais. Na vida real alguns anos são mais favoráveis que outros, e algumas zonas são mais favorecidas que outras. Esta variabilidade no espaço e no tempo afecta o numero de espécies que vivem em cada zona e as suas abundâncias.

Tem as mesmas implicações, falar de zonas mais vastas de protecção ambiental na Austrália ou em Portugal?
Sim! As escalas são obviamente muito diferentes – a Grande Barreira de Coral por exemplo estende-se por mais de 2.000 kms – mas os princípios são os mesmos. Mesmo na Austrália é importante que a conservação seja pensada como um projecto internacional, e não apenas dentro de fronteiras nacionais que não têm qualquer significado ecológico. Devíamos provavelmente falar de zonas de protecção ambiental do Atlântico, e não de Portugal, mas podemos começar por estender as nossas reservas. Recentemente, as zonas protegidas na Grande Barreira de Coral passaram de 4% para 30% da área total. Usando emprestada uma analogia do Sean Connolly, proteger áreas maiores e ter redes de zonas protegidas é equivalente a ter um portfolio variado de investimentos. Como cada investimento varia de forma relativamente imprevisível, é preciso por um lado investir fundos suficientes e por outro não pôr todos os ovos no mesmo cesto, para assegurar que não se entra em bancarrota.

Os corais somam-se ou multiplicam-se?
Somam-se, multiplicam-se, subtraem-se e dividem-se. A reprodução e a morte nos corais pode acontecer de várias formas, porque são organismos coloniais. Cada “indivíduo” é composto por várias unidades, que se reproduzem assexuadamente (somam-se), e sexuadamente (multiplicam-se). Como curiosidade, na Grande Barreira de Coral a maioria das espécies de coral reproduzem-se todas numa única noite por ano, numa orgia colectiva. Por outro lado também pode morrer a totalidade ou apenas parte da colónia (dividem-se e subtraem-se).

Quais os argumentos que sustentam a biodiversidade como algo a defender?
O argumento mais importante tem a ver com sobrevivência. Dependemos todos de inúmeros serviços prestados pelos ecossistemas: ar com suficiente oxigénio, água potável, etc. Tem-se tornado cada vez mais evidente que a capacidade dos ecossistemas recuperarem de perturbações é maior se houver várias espécies que desempenhem papéis semelhantes. A resiliência depende da redundância e portanto da biodiversidade. Como o planeta Terra está permanentemente a mudar, preservar a biodiversidade aumenta a probabilidade dos ecossistemas continuarem a gerar os serviços de que precisamos. E depois há as razões puramente estéticas. Defender a biodiversidade é como preservar as pirâmides do Egipto. Eu quero que os meus netos possam ver baleias, orquídeas e borboletas, tal como quero que possam ver o tecto da Capela Sistina.

Que tipo de empatia tem com a água?
Somos grandes amigas. Principalmente a água salgada. Dificilmente me imagino a viver longe do mar.

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