Carlos Herdeiro
“Porque é que existe uma
força?...”
A teoria da relatividade restrita é
bonita mas não unificadora. Por outro lado, as teorias
das cordas tentam unificar as físicas à custa
de muitas abstracções. Quando for dado o “golpe
de asa” nesta questão, acha que será inteligível
pela avozinha e pela criança de três anos?
Há diferentes níveis de entendimento. A lei
da gravitação Newtoniana diz que: "entre
duas massas existe uma força atractiva, proporcional
ao produto das massas e inversamente proporcional ao quadrado
da distância". Numa primeira análise percebemos
que existe uma força. Numa segunda análise percebemos
que é sempre atractiva. Numa terceira análise,
compreendemos que cresce com as massas e decresce com a distância.
Numa quarta análise percebemos que a força é
conservativa e existe um potencial para a força gravítica
de uma massa. Numa quinta análise percebemos que outra
massa actuada por essa força tem momento angular conservado,
movimento planar e as órbitas são exactamente
solúveis em termos de cónicas. Numa sexta análise
apercebemo-nos que existe uma simetria escondida que aumenta
o grupo de simetria do problema para SO(4). Numa sétima
análise compreendemos que a lei nada nos diz sobre
a propagação da força gravítica
e é conceptualmente inconsistente com a teoria da relatividade
restrita, o que nos leva à relatividade geral. Numa
oitava análise perguntamos "Porquê?";
porque é que é proporcional às massas?
Porque é que é inversamente proporcional à
distância? Porque é que é sempre atractiva?
Porque é que existe uma força?... Cada indivíduo
faz N análises, incluindo as crianças e as avozinhas.
N depende da criança e depende da avozinha. Acredito
que quando for dado o "golpe de asa" na questão
referida, N será maior do que a unidade para todos
os indivíduos.
Quais os maiores obstáculos
à mudança nas instituições científicas
portuguesas?
O maior obstáculo é sempre o mesmo que a maior
força motriz: as pessoas.
Ter de lutar para chegar ao topo é
estimulante ou frustrante?
Se o montanhista souber parar nos patamares e apreciar a paisagem
será, certamente, gratificante.
Defende a constância da velocidade
da luz?
Prefiro ter uma atitude de a atacar e ver se ela se consegue
defender. Para já tem-se defendido muito bem. Mas há
brechas nas linhas defensivas.
O Universo tem notícia de nós?
Tem; mas normalmente atrasadas, devido à velocidade
da luz ser finita...
Quando consegue abstrair-se das dependências
sociais, o que resta do tempo?
As dependências sociais não nos "tiram"
tempo; transformam-no. Podem restringir uma certa liberdade
mas aumentam também a riqueza das nossas vidas.
Para ter optado pela sua área
de investigação, certamente que já sonhou
em explicar tudo. Como foi esse sonho?
Não, nunca sonhei em explicar tudo. Nem sequer sei
o que isso significa. Mas já sonhei com compreender
mais do que compreendo. Normalmente faço-o acordado
e estimula-me a continuar. |