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#20 | 12 Dezembro 05
 

Com 29 anos, é Investigador Auxiliar e responsável por um grupo de investigação na área da divisão celular (mitose), no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) do Porto. Entre o IBMC no Porto, a Universidade de Edimburgo no Reino Unido e o Wadsworth Centre em Nova Iorque, EUA, tem aplicado uma técnica revolucionária de micro-cirurgia laser sub-celular combinada com microscopia de alta-resolução em células vivas e 'ferramentas' moleculares. Observando a mitose em tempo real, tem dado importantes contributos para a análise do movimento dos cromossomas numa nova dimensão: o tempo.

Recebeu o Prémio Gulbenkian de Estímulo à Investigação 2006.

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Hélder Maiato
"Corpo são em mente sã."

A multiplicação é um milagre?
Sem querer entrar por campos epistemológicos, no caso da multiplicação celular, está claramente demonstrado que o ‘milagre’ acontece porque existe uma regulação genética e uma série de sistemas de controlo já conhecidos que assistem a este processo. Pela simples manipulação desses reguladores é possível induzir células, que normalmente não estão em proliferação activa, a entrar num processo de multiplicação. Um exemplo prático é o caso dos tumores malignos, onde por alterações genéticas (hereditárias ou induzidas por factores ambientais) as células entram num estado crónico de multiplicação.

Um número anormal de cromossomas pode ser a causa ou a consequência do cancro?
Isto representa um dilema muito presente na área de investigação do cancro, para o qual ainda não há uma tendência de resposta. Isto porque existe suporte experimental para ambos, ou seja, um número anormal de certos cromossomas num determinado contexto pode levar a um aumento da influência de determinados genes sobre outros, quer estejam a mais ou a menos, o que poderá conferir características vantajosas de selecção num determinado ambiente e consequente proliferação. Por outro lado, a disfunção de determinados genes chave, que por exemplo estejam envolvidos no próprio processo de multiplicação, possa estar associada a alguns tipos de cancro e estar na base do aparecimento de um número anormal de cromossomas, pelo simples facto da maquinaria molecular necessária ao processo não ser eficiente. E voltámos outra vez ao início…

Como se interfere em tempo real com a mitose?
Hoje em dia, dado o avançado conhecimento dos processos moleculares por detrás dos processos biológicos (por exemplo, a disponibilidade de genomas descodificados e o conhecimento básico sobre a regulação da expressão genética) existem várias ‘ferramentas’ moleculares que permitem interferir com a função de vários genes em células vivas.
Paralelamente, os enormes avanços ao nível da óptica, física e engenharia permitiram o desenvolvimento de microscópios cada vez mais ‘potentes’ e versáteis, possibilitando a observação em tempo real dos processos biológicos celulares. Se combinarmos a capacidade de interferir com genes essenciais para a mitose com a possibilidade de podermos avaliar através do microscópio as consequências para a célula durante o momento da divisão, estamos a interferir em tempo real com a mitose. Esta é a perspectiva do biólogo celular…contudo, se olharmos para a perspectiva médica, interferir em tempo real com a mitose é aquilo que se pretende por exemplo com a quimio ou radioterapia, onde através do uso de drogas ou determinadas radiações se pretende matar as células durante a mitose (que é o período em que a célula está mais vulnerável), impedindo assim a proliferação celular e o controlo do cancro.

Em que estado está o seu estudo do movimento dos cromossomas?
Está em curso…estamos neste momento a desenvolver, com apoios da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e a Fundação Calouste Gulbenkian, um sistema de microcirurgia laser que nos permitirá perceber qual a contribuição de determinadas estruturas celulares durante o processo da mitose e consequentemente para o estudo do movimento dos cromossomas.
Desta forma pretendemos acrescentar ao leque de possibilidades de experimentação em tempo real durante a mitose uma ferramenta adicional, que quando combinada com as modernas técnicas de biologia molecular permitirá responder a perguntas que de outra forma não seria possível.
Hoje em dia já sabemos de que é que depende o movimento dos cromossomas, não sabemos é por exemplo como é que as células respondem quando interferimos com esse factor como no caso da quimioterapia. Não sabemos também que processos estão por detrás da plena funcionalidade desse factor e sobretudo o que faz com que a divisão equitativa dos cromossomas ocorra sempre (ou quase sempre…) com sucesso, ou seja, quais os mecanismos de controlo de qualidade.

Qual a sua interpretação da máxima “mente sã em corpo são"?
A minha interpretação é textual, e algo que tenho para mim como filosofia de vida. Durante a minha adolescência e até há bem pouco tempo foi algo ‘sagrado’ para mim. Sempre pratiquei desporto, passando até pela alta competição, agora é mais “corpo são em mente sã”, uma vez que tento fazer algum desporto para tentar manter uma certa sanidade mental e de alguma forma funcionar como válvula de escape a uma vida extremamente agitada e cada vez com mais e maiores responsabilidades.

 

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