CASO NÃO CONSIGA VISUALIZAR CORRECTAMENTE ESTA NEWSLETTER CLIQUE AQUI
 
#10| 03 Outubro 05
 

Nasceu a 19 de Agosto de 1968 em Angola. É antropólogo.
Lecciona presentemente no departamento de antropologia da Universidade de Coimbra. O seu trabalho de investigação está direccionado para a
antropologia e a história da ciência, em particular do conhecimento biomédico. Desenvolveu trabalho de mestrado e doutoramento nos domínios da antropologia e história da psiquiatria. Sobre a construção de uma nosologia
psiquiátrica, a Post-Traumatic Stress Disorder, e sobre a emergência e consolidação da psiquiatria forense em Portugal, respectivamente.
Desenvolve ainda trabalho no domínio das implicações culturais, sociais e políticas das biotecnologias, e também no domínio da cognição. Publicou 6
livros de poemas: A Imprecisa Melancolia (1995), lamento (1999), Umbria
(1999), Verso Antigo (2001), Angst (2002) e Duelo (2004).

email
site
Luís Quintais
“Encontro poesia na etnografia e etnografia na poesia.”

Acorda para escrever?
Não. Não sou um escritor compulsivo. Escrevo por impulso ou por desafio ou por obrigação. É evidente que sonho, por vezes, em organizar a minha vida segundo um projecto de escrita. Ideias não me faltam. Mas não é assim que as coisas se passam. De resto, prefiro a síntese e a brevidade. Daí também a minha inclinação pela poesia. Quero acreditar que todos os poemas são poemas de circunstância, e que toda a escrita é também pautada pela circunstância, pelo evento que nos lança de encontro à página. Assim, escrevo de manhã, de tarde, à noite, e em qualquer lugar: na rua, por exemplo, quando algo me faz atentar na ordem ou desordem do mundo. Etnografias, aforismos, poemas, fragmentos. Gosto do que é estilhaço, apara, vestígio, sombra.

Gosta de passear pelos corredores de uma universidade?
Não. Não tenho tempo, e assustam-me as instituições. Oiço as 6 Suites de Bach no meu gabinete de trabalho no departamento. Elas transbordam para os corredores. Colegas, amigos, alunos agradecem. A mim dão-me a impressão de que estou num espaço habitável, seguro, respirável. As fronteiras invisíveis que as Suites fazem (o seu espaço interior) são a minha casa, o meu refúgio. Evito aventurar-me para lá das móveis fronteiras que as suites desenham.

A actividade poética é uma transpiração da sua actividade académica ou é antes um motor?
Nem uma coisa nem outra, ainda que reconheça que a minha actividade enquanto antropólogo e etnógrafo alimenta a escrita dos poemas, e que certo tipo de enunciados e proposições que provêm da poesia alimentam seriamente o meu trabalho de investigação e de escrita "demonstrativa", a usar uma expressão de um amigo também antropólogo e escritor, o Ruy Duarte de Carvalho. Seja como for, aquilo que faço enquanto antropólogo e etnógrafo não anda muito longe do que faço enquanto escritor de livros de poesia. Pelo menos é este o entendimento que eu tenho. As etnografias correspondem a um género literário e contêm uma poética. Mais. A escrita antropológica é, em muitos aspectos, apenas uma meta-poética (uma aventura reflexiva)
construída a partir da escrita estritamente etnográfica. Há pois muito mais continuidade e contiguidade entre géneros do que se supõe. Eu sou um centauro, um híbrido. Tudo o que faço depende disso. Onde está a poesia ou a etnografia? Encontro poesia na etnografia e etnografia na poesia.

Gosta de ensinar?
Sim, gosto das aulas. Por vezes, é penoso. As minhas qualidades
performativas sofrem danos irreversíveis passados 45 minutos. Os alunos são evidentemente implacáveis, e o mundo é um lugar injusto.

Qual a lógica que preside à arrumação da sua biblioteca?
A lógica desaba quando há mais livros que estantes. Seja como for, divido os livros por três grandes temas: ficção, ensaio, poesia. Os de ciências sociais, antropologia e filosofia estão mais ou menos arrumados no meu gabinete de trabalho no departamento da FCTUC.

O que procura?
Não asfixiar. O que é não é muito fácil quando se chega a meio do caminho, como dizia o Dante.

 
 

Anteriores entrevistas:
Helder Coelho
José Tribolet
José Félix Costa
Luís Cabral
Maria Margarida Souto-Carneiro
Henrique Garcia Pereira
António Pedro Dores
Jorge Buescu
Luís Sebastião

 
Editor
António Coxito
Produção
Ricardo Melo
Design
Luís Silva
Subscrições/cancelamento
Esta mensagem está de acordo com a legislação Europeia sobre o envio de mensagens comerciais: qualquer mensagem deverá estar claramente identificada com os dados do emissor e deverá proporcionar ao receptor a hipótese de ser removido da lista. Para ser removido da nossa lista, basta que nos responda a esta mensagem colocando a palavra "Remover" no assunto. (Directiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu; Relatório A5-270/2001 do Parlamento Europeu)